Saiba porque “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é o grande favorito do Oscar 2023

Embora ainda possa ter suas surpresas, o Oscar 2023 parece ter um favorito consolidado: “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. Depois de conquistar críticos e espectadores, a improvável comédia de […]

Instagram/Michelle Yeoh

Embora ainda possa ter suas surpresas, o Oscar 2023 parece ter um favorito consolidado: “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. Depois de conquistar críticos e espectadores, a improvável comédia de ficção científica dominou a temporada de premiações. Recordista em indicações, concorrendo em 11 categorias do Oscar, o longa conquistou os principais prêmios da crítica da temporada, como o Critics Choice Awards e o Globo de Ouro de Melhor Filme. E também levou para casa os principais prêmios dos sindicatos de Hollywood, incluindo dos atores (SAG), diretores (DGA), roteiristas (WGA) e produtores (PGA), considerados os principais termômetros para o Oscar. Nunca um filme com tamanha unanimidade entre as entidades sindicais do cinema americano perdeu o Oscar.

Há um ano, seria impossível imaginar que um filme com mãos de salsichas, pedras pensantes, plug anal e um guaxinim cantor poderia ganhar o prêmio de Melhor Filme, mas prevê-se que o longa fará exatamente isso no Oscar de domingo (12/3). “Tudo em Todo o Lugar” é uma viagem insana pelo multiverso que não se parece em nada com o tipo de filme que geralmente ganha o Oscar principal.

A trama acompanha a história de Evelyn Wong (Michelle Yeoh, de “Podres de Ricos”), dona de uma lavanderia falida e imigrante chinesa que se sente insatisfeita com sua vida. Ela luta para se comunicar com seu ex-marido, Waymond (Ke Huy Quan, de “Os Goonies”) e sua filha lésbica Joy (Stephanie Hsu, de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”), até que um dia é transportada para outro universo e incumbida de derrotar uma força do mal.

Caso saia vitorioso, esse pode ser o quarto ano consecutivo que a categoria de Melhor Filme premia uma obra que “não parece uma vencedora do Oscar de Melhor Filme”, depois de “No Ritmo do Coração” (2021), “Nomadland” (2020) e “Parasita” (2019) saírem vitoriosos na mesma categoria. E isso reforça o quanto a Academia vem mudando nos últimos anos.

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” começou a chamar atenção ao se destacar nas bilheterias norte-americanas. O filme, que custou U$ 25 milhões, rendeu ao todo US$ 108 milhões mundiais (quase tudo nos EUA). O boca-a-boca positivo fez com que o filme começasse a pipocar nas principais premiações da indústria e vencesse o Globo de Ouro de Melhor Comédia no início do ano.

Com o passar do tempo, o longa deixou “Os Fabelmans” e “Os Banshees de Inisherin”, inicialmente apontados como favoritos da temporada, comendo poeira nas premiações.

“Os Fabelmans”, por sinal, chegou a ser apontado como favorito ao prêmio de Melhor Direção, que iria para Steven Spielberg. Mas a premiação no DGA jogou um balde de água fria nos fãs do renomado diretor. Na véspera da premiação, tudo leva a crer que Daniel Kwan e Daniel Scheinert são os favoritos na categoria pelo trabalho em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”.

Saindo vitorioso nas premiações dos produtores, diretores, roteiristas e atores, o filme entrou para a história e tornou-se a apenas a quinta produção a ganhar todos os quatro principais prêmios dos sindicatos. O feito só foi atingido anteriormente pelos filmes “Beleza Americana” (1999), “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), “Quem Quer Ser Um Milionário?” (2008) e “Argo” (2012). Todos vencedores do Oscar de Melhor Filme.

Por mais que “Tudo em Todo o Lugar” tenha grandes chances de vencer o prêmio principal da noite, alguns precedentes podem surgir no caminho da produção: o filme compete com obras que agradam mais ao gosto “conservador” de alguns votantes. Estatísticas sugerem que alguns membros da Academia, especialmente os mais velhos que ainda compõem grande parte da organização, tendem a achar o filme “louco e confuso” demais. Nesse caso, uma escolha “universalmente aceitável” favoreceria o longa “Top Gun: Maverick”.

A produção estrelada por Tom Cruise ganhou o público, a crítica e representa o melhor que o cinema hollywoodiano pode oferecer. Além de ter feito uma bilheteria astronômica, que bateu de frente com os heróis da Marvel. O filme fez tanto sucesso que até Spielberg admitiu que o longa “salvou Hollywood”.

A maior surpresa dessa categoria seria a vitória do alemão “Nada de Novo no Front”, que dominou o BAFTA e ganhou o apoio de muitos membros da Academia. O longa passou desapercebido nas premiações americanas, mas os eleitores do Oscar mostraram seu grande apreço pela obra, que angariou nove indicações ao prêmio. Mas nem todos os votantes estão propensos a premiar um filme que foi exibido primordialmente na Netflix e não gerou nenhuma bilheteria nas salas de cinema.

Dentre todos os prêmios, o mais garantido de “Tudo em Todo o Lugar” é o de Melhor Ator Coadjuvante. Ke Huy Quan é a aposta mais fácil do Oscar 2023. Ele simplesmente venceu o Globo de Ouro, o SAG Awards, o Critics Choice e varreu todos os principais prêmios da indústria.

Sua colega de elenco, Michelle Yeoh. também parece ter boas chances e vem crescendo em um momento importante da temporada. Cate Blanchett, que está indicada por “Tár”, levou o BAFTA e o Critics, mas empatou no Globo de Ouro (ficou com o troféu de Drama, enquanto Yeoh ficou com o de Comédia) e perdeu o SAG e o Spirit Awards para a concorrente. O fato de já ter dois Oscars em casa também parece pesar na disputa com a veterana Yeoh, que nunca foi reconhecida pela Academia.

Caso vença, Yeoh se tornará a segunda mulher não-branca a ganhar o prêmio de Melhor Atriz nos 95 anos da premiação. A vitória viria 22 anos depois de Halle Berry levar a estatueta por “A Última Ceia”, de 2001.

Já a disputa de Melhor Atriz Coadjuvante, que parecia apontar para Angela Bassett (por “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”), após o Globo de Ouro e o Critics, também sofreu impacto nas últimas semanas com SAG vencido por Jamie Lee Curtis.

A comédia do multiverso nem precisa ganhar nada para já ser considerada uma presença histórica no Oscar. Mesmo que sofra uma improvável derrota em todas as categorias, o filme já quebrou paradigmas em Hollywood, deu protagonismo para atores asiáticos e abriu os olhos da indústria para um mundo de novas narrativas e possibilidades.