Os livros de Agatha Christie, autora de clássicos como “Assassinato no Expresso Oriente” e “Morte Sobre o Nilo”, serão reeditados com o intuito de remover conteúdos racistas contidos nas obras originais. De acordo com o jornal britânico The Telegraph, a editora HarperCollins contratou “leitores de sensibilidade” (sensitivity readers) para revisar os materiais e propor mudanças.
O jornal aponta que alguns trechos de romances estrelados pelos personagens Hercule Poirot e Miss Marple foram “retrabalhados ou removidos” com o objetivo de eliminar referências à etnia de alguns personagens ou para omitir as descrições físicas deles por completo.
Christie foi conhecida por representações estereotipadas de pessoas asiáticas, e o termo “Oriental” é um dos que foi retirado das novas edições. Além disso, descrições de personagens como “núbios”, “ciganos” e “um judeu” também foram removidas de vários romances.
Em outros casos, houve uma edição do conteúdo, trocando palavras ofensivas por outras mais aceitáveis. Por exemplo, em determinando livro, Christie descreve “um criado negro”, afirmando que ele estava “sorrindo enquanto entendia a necessidade de ficar em silêncio a respeito de um incidente”. Na nova versão, o personagem não é descrito nem como negro e nem sorridente. Em vez disso, ele está apenas “acenando com a cabeça”.
Esse tipo de prática de reedição dos conteúdos ofensivos de livros clássicos tem se tornado cada vez mais comum. Além de Agatha Christie, os livros de Roald Dahl (autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”) e Ian Fleming (“007”) passaram por um processo similar. Porém, isso tem gerado muita crítica entre os leitores, que reclamam que as editoras estão destruindo documentos históricos.
A Disney, por exemplo, incluiu avisos no início de algumas das suas animações disponíveis na plataforma de streaming Disney+, informando que elas continham caricaturas racistas e/ou ofensivas. Porém, o estúdio não mexeu no material original.
No caso de Agatha Christie, alguns dos seus livros já passaram por esse tipo de edição anteriormente. Um dos seus livros tinha o título de “Ten Little Indians” (Dez Indiozinhos, em tradução literal). E se o nome não era ruim o suficiente, no Brasil ele ganhou o título de “O Caso dos Dez Negrinhos”. Com o tempo, o livro foi rebatizado para “E não Sobrou Nenhum” (And Then There Were None).