Festival de Berlim começa nesta quinta em clima político

O Festival de Berlim começa sua 73.ª edição nesta quinta-feira (16/2) buscando um equilíbrio entre novos talentos e cineastas consagrados. Com uma relação de filmes mais próxima do mundo em que vivemos […]

Instagram/Berlinale

O Festival de Berlim começa sua 73.ª edição nesta quinta-feira (16/2) buscando um equilíbrio entre novos talentos e cineastas consagrados. Com uma relação de filmes mais próxima do mundo em que vivemos e diretamente relacionada com eventos reais, o evento que se inicia em clima político e se estende pela capital alemã até o próximo dia 26.

A obra que dá início à programação é “She Came to Me”, comédia romântica da cineasta americana Rebecca Miller (“O Mundo de Jack e Rose”), que reúne um elenco de estrelas como Peter Dinklage (“Game of Thrones”), Anne Hathaway (“Convenção das Bruxas”), Marisa Tomei (“Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa”) e Joanna Kulig (“Guerra Fria”), e será exibido em uma sessão de gala fora de competição.

A abertura do festival também contará com um discurso por vídeo do ator e presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky. A transmissão antecederá a exibição de “Superpower”, documentário que o diretor e ator Sean Penn (“Licorice Pizza”) filmou em Kiev.

Sean Penn viajou para a Ucrânia há um ano para documentar a ameaça de uma invasão do país pela Rússia. Chegando no local, ele se deparou com o início da guerra, em 24 de fevereiro, e obteve muitas imagens exclusivas e fortes para “Superpower”. O longa será exibido na sexta-feira (17/2). Por sinal, a realização do festival coincide com o aniversário de um ano da guerra decorrente da invasão russa à Ucrânia.

“É uma honra especial para nós poder receber digitalmente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na abertura do nosso festival na noite de quinta-feira. A Berlinale, com todos os seus cineastas e participantes, expressa solidariedade com o povo da Ucrânia na luta pela independência e condena veementemente a agressão russa”, disseram os diretores da Berlinale, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian.

Esta será um edição dominada pelos dramas da Ucrânia e também do Irã, que enfrenta uma escalada autoritária para reprimir protestos causados pela morte de uma mulher, por não usar apropriadamente seu hijabe. Durante os próximos 10 dias de estreias e debates, o 73º Festival de Berlim exibirá 18 filmes e documentários focados nas histórias dos dois países, além da competição oficial com 19 produções candidatas ao Urso de Ouro. “A guerra na Ucrânia e o movimento de protesto no Irã são duas áreas de conflito que representam questões mais amplas, a democracia e a liberdade de expressão”, explicou Mariëtte Rissenbeek.

Assim como outros festivais internacionais, a Berlinale testemunhou com indignação a prisão de cineastas iranianos nos últimos meses, alguns deles diretamente relacionados ao evento. O diretor Mohammad Rasoulof, que ganhou um Urso de Ouro por “Não Há Mal Algum” em 2020, foi preso em julho do ano passado e libertado por período provisório, coincidentemente na época do festival. Outro diretor premiado em Berlim, Jafar Panahi (“Taxi Teerã”), também foi detido e, após ameaçar greve de fome, foi posteriormente solto. O Festival de Berlim dedicará a agenda de sábado para o Irã e a Ucrânia, com um tapete vermelho especial, várias programações e uma coletiva de imprensa.

O Brasil também está presente em Berlim: os longas “O Estranho” e “Propriedade” serão exibidos nas mostras paralelas do festival, assim como os curtas “Infantaria”, “As Miçangas” e “A Árvore” e uma cópia restaurada do clássico “A Rainha Diaba”, filme de Antônio Carlos Fontoura, gravado em 1974 durante a ditadura militar.

O longa-metragem “O Estranho” fará sua estreia mundial na mostra Forum, que abre espaço para trabalhos ousados e que ofereçam novas linguagens cinematográficas. Escrito e dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, o filme é passado no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e tem sua narrativa conduzida por uma funcionária cuja história familiar se entrelaça com a construção do próprio aeroporto em terras que, no passado, pertenceram aos indígenas.

O pernambucano “Propriedade”, de Daniel Bandeira, acompanha a revolta dos trabalhadores da fazenda de uma reclusa estilista, que se enclausura em seu carro blindado para se proteger do ataque de seus empregados. Estrelado pela atriz Malu Galli, o filme teve a sua estreia no Festival do Rio de 2022, onde recebeu boas avaliações da crítica, que o classificou como “incisivo e desafiador”.

O curta-metragem brasiliense “As Miçangas” está na Berlin Shorts. Dirigido por Emanuel Lavor e Rafaela Camelo, o filme propõe uma reflexão sobre o aborto a partir da história de duas irmãs que viajam para que uma delas possa interromper uma gravidez não planejada.

Grande vencedor do último Festival Curta Cinema, o alagoano “Infantaria”, de Laís Santos Araújo, entrou na mostra Generation 14Plus. A trama acompanha a família de Joana, uma garota que se prepara para seu aniversário de 10 anos enquanto deseja entrar na puberdade.

Por último, o curta A Árvore (2023), de Ana Vaz, é uma co-produção entre Brasil e Espanha, que será exibida na mostra Forum Expanded. Definido por sua realizadora como um “filme-meditação em sequências de 30 segundos”, a obra rememora o pai da artista, ligando geografias, tempos, vivos e mortos “com uma espada de metal”.

Steven Spielberg, que concorre ao Oscar por seu trabalho em “Os Fabelmans”, será o homenageado desta edição. O lendário diretor americano receberá um Urso honorário pelo conjunto da obra.

Já a mostra principal terá 19 filmes disputando o Urso de Ouro, que será concedido pelo júri internacional presidido pela atriz americana Kristen Stewart (“Spencer”). Aos 32 anos, ela se torna a pessoa mais jovem da história a assumir a presidência da mostra competitiva, que vai avaliar filmes de talentos emergentes e de nomes consagrados, como os alemães Margarethe von Trotta e Christian Petzold, o chinês Zhang Lu, o francês Philippe Garrel e o diretor japonês de animes Makoto Shinkai.

Confira abaixo a lista dos filmes que competem pelo Urso de Ouro.

“20.000 Espécies de Abejas”, de Estibaliz Urresola – Espanha
“The Shadowless Tower”, de Zhang Lu – República da China
“Till the End of the Night”, de Christoph Hochhaüsler – Alemanha
“BlackBerry”, de Matt Johnson – Canadá
“Disco Boy”, de Giacomo Abbruzzese – França / Itália / Polônia
“Le Grand Chariot”, de Philippe Garrel – França
“Journey into the Desert”, de Margarethe von Trotta – Alemanha
“Someday We’ll Tell Each Other Everything”, de Emily Atef – Alemanha
“Limbo”, de Ivan Sen – Austrália
“Mal Viver”, de João Canijo – Portugal/França
“Manodrome”, de John Trengove – Reino/EUA
“Music”, de Angela Schanelec – Alemanha/França/Sérvia
“Past Lives”, de Celine Song – EUA
“Afire”, de Christian Petzold – Alemanha
“On the Adamant”, de Nicolas Philibert – França
“The Aurvival of Kindness”, de Rolf de Heer – Austrália
“Suzume”, de Makoto Shinkai – Japão
“Tótem”, de Lila Avilés – México/Dinamarca
“Art College 1994”, de Liu Jian – China