Retrospectiva: Os 10 cancelamentos de séries mais doídos de 2022

O aumento na oferta de séries, proporcionado pela explosão do streaming, também levou a um aumento na quantidade de cancelamentos das produções. Como consequência, alguns títulos com fãs dedicados tiveram sua continuidade […]

Divulgação/Netflix

O aumento na oferta de séries, proporcionado pela explosão do streaming, também levou a um aumento na quantidade de cancelamentos das produções. Como consequência, alguns títulos com fãs dedicados tiveram sua continuidade interrompida em 2022. Enquanto alguns produtores conseguiram contornar a má notícia repentina com um final improvisado, capaz de passar a impressão de conclusão, outros não conceberam a possibilidade, deixando histórias sem final.

Vale apontar que a situação é diferente em relação à atrações que chegaram a seu final de forma planejada no ano passado, como “Better Call Saul” e “Ozark”. Abaixo estão 10 séries que, ao acabar antes da hora, deixaram fãs desconsolados e em campanha desesperada pelo salvamento que raras vezes acontece. Confira a lista das séries mais injustiçadas e que deveriam continuar no ar em 2023.

 

| GENTLEMAN JACK | HBO MAX

 

A série de época era baseada na história real da primeira lésbica moderna, Anne Lister, que foi uma mulher de negócios rica e bem-sucedida, conhecida não apenas por se vestir com ternos masculinos, mas por ter se casado com a noiva Ann Walker numa igreja em 1834, no primeiro casamento lésbico do mundo. Embora houvesse planos para uma 3ª temporada, o cancelamento pelo menos interrompeu a criação de Sally Wainwright (criadora de “Happy Valley”) num bom momento, com Anne (Suranne Jones) e Ann (Sophie Rundle, de “Peaky Blinders”) juntas.

 

| LEGACIES | HBO MAX

 

A trajetória dos herdeiros do universo de “The Vampire Diaries” chegou ao fim focada no destino da protagonista Hope Mikaelson (Danielle Rose Russell), que se torna “tríbrida” para enfrentar Malivore, a grande ameaça que pairou sobre a série desde seu episódio inaugural. Sacrificando a própria humanidade no processo, ela ainda precisa enfrentar outro oponente ainda mais poderoso nos capítulos finais, que mata vários personagens e conduz a trama quase a um desfecho sombrio, com a perspectiva de fechamento da escola Salvatore para jovens sobrenaturais.

Com seu cancelamento, também chegou ao fim o universo televisivo baseado nos livros de L.J. Smith, introduzido pela produtora Julie Plec em 2009 na estreia de “The Vampire Diaries”. A nova atração girava em torno de filhas de personagens daquela atração. Mas apesar do fim precipitado, a trama foi amarrada com um desfecho bem intencionado, que permite um resgate futuro, ao mesmo tempo em que se despede dos personagens.

 

| LEGENDS OF TOMORROW | NETFLIX

 

Cancelados em sua melhor temporada, os super-heróis da DC que viajam no tempo conseguiram ao menos comemorar a produção de seu 100º episódio, com direito à participação especial do elenco da temporada inaugural. Infelizmente, porém, o sétimo ano da produção foi encerrado com os protagonistas presos pela polícia temporal num cliffhanger que deixou os fãs inconformados, pois nunca terá conclusão. De todas as séries do Arrowverso, é a que mais faz falta e a única que saiu do ar sem conclusão – considerando que o “cliffhanger” de “Batwoman” não envolveu os personagens centrais.

Um fio de esperança surgiu nos últimos dias com uma citação aos fãs da série pelo cineasta James Gunn, novo responsável pelas produções de cinema e TV da DC Comics, que disse estar prestando atenção aos pedidos de resgate da produção.

 

| MINX | HBO MAX

 

Cancelada após ser renovada, o destino da produção frustrou fãs que adoraram sua mistura de comédia de época e comentário social. A série se inspirava em publicações como Playgirl e Viva para conceber uma trama fictícia e imaginar o impacto do lançamento da primeira revista erótica para mulheres. Passada em Los Angeles nos anos 1970, evocava o período com grande autenticidade e, de forma diferente de outras produções passadas no universo do entretenimento adulto, não escondia seu tema de forma tímida. Ao contrário, exibe em closes, em todos os tamanhos, cores e formatos.

A trama acompanhava uma jovem feminista que, desanimada com o cenário editorial das revistas para mulheres, aceitava a proposta inusitada de um editor de revistas masculinas para criar a primeira revista erótica para o público feminino – como a Viva do publisher da Penthouse. Criada por Ellen Rapoport (roteirista de “Clifford, o Gigante Cão Vermelho”) e estrelada por Ophelia Lovibond (“Trying”) e Jake Johnson (“New Girl”), atingiu 94% de aprovação no Rotten Tomatoes com comparações a “Boogie Nights” e “GLOW”. Por isso, o estúdio Lionsgate TV está tentando encaixá-la em outra plataforma.

 

| PAPER GIRLS | PRIME VIDEO

 

A adaptação dos quadrinhos premiados de Brian K. Vaughan (criador também de “Os Fugitivos”) terminou a 1ª temporada em cliffhanger, interrompendo seu potencial criativo, bastante elogiado pela crítica internacional (91% de aprovação no Rotten Tomatoes). A trama de viagem no tempo acompanhava quatro jornaleiras adolescentes que, na noite do Halloween de 1988, fazem um desvio inesperado em sua rota de entrega de jornais, chegando sem querer em 2019, onde encontram suas versões adultas. Além de serem pegas de surpresa no meio de uma guerra entre facções do futuro, elas passam a ser perseguidas por crimes temporais. E embora o aspecto sci-fi da trama fosse um pouco simplificado, a relação das personagens mais que compensava com um aprofundamento rico em complexidade.

Assinada por Stephany Folsom, co-roteirista de “Toy Story 4”, a produção serviu ao menos para apresentar ao público as ótimas atrizes adolescentes Riley Lai Nelet (“Altered Carbon”), Sofia Rosinsky (“Fast Layne”), Camryn Jones (“Perpetual Grace, LTD”) e Fina Strazza (“A Mulher Invisível”).

 

| O CLUBE DA MEIA-NOITE | NETFLIX

 

Vítima de uma disputa entre a Netflix e o cineasta Mike Flanagan (responsável pelas minisséries “A Maldição da Residência Hill”, “A Maldição da Mansão Bly” e “A Missa da Meia-Noite”), a série foi cancelada um dia após o diretor fechar um contrato de exclusividade com a Amazon para desenvolver novas produções para a plataforma Prime Video. Ironicamente, o corte vitimou a primeira e única atração de Flanagan na Netflix planejada para ter mais de uma temporada.

A trama girava em torno de um grupo de adolescentes com doenças terminais, que se reunia todo dia à meia-noite na clínica em que estão internados para contar histórias de terror. Enquanto essas histórias ganhavam vida nos episódios, o grupo decide firmar um pacto sinistro: o primeiro deles que morrer deve tentar se comunicar com os amigos que sobreviveram. Mas assim que essa morte ocorre, coisas estranhas começam a acontecer.

A produção adaptava o livro homônimo de Christopher Pike com um elenco repleto de atores jovens, além dos adultos Zach Gilford (também de “Missa da Meia-Noite”) e a sumida Heather Langenkamp (a eterna Nancy de “A Hora do Pesadelo”) como um médico e uma enfermeira do hospital. E assim que o cancelamento foi anunciado, Flanagan foi às redes sociais contar o que aconteceria na 2ª temporada, visando oferecer aos fãs uma noção da conclusão.

 

| O ÚLTIMO REINO | NETFLIX

 

A jornada de Uhtred de Bebbanburg (Alexander Dreymon) chegou ao fim antes da hora, já que o quinto ano da produção leva às telas o nono e o décimo volumes da franquia literária conhecida como “Crônicas Saxônicas”, do autor inglês Bernard Cornwell, que têm ao todo 13 livros. A Netflix optou por cancelar a série do saxão criado como viking antes do final literário, aproveitando o ponto da história em que o protagonista enfrenta Brida (Emily Cox), sua amiga de infância e viúva de seu irmão de criação, numa luta pelo destino de Wessex. Se isso não fosse suficiente, Uhtred ainda tenta mais uma vez retomar seu reino original, Bamburgo (Bebbanburg).

Apesar desse desfecho antecipado, que oferece alguma conclusão para a história acompanhada desde o primeiro capítulo, a plataforma não desistiu da franquia e pretende produzir um filme para completar a história literária.

 

| RAISED BY WOLVES | HBO MAX

 

A ambiciosa série sci-fi produzida por Ridley Scott (“Casa Gucci”) saiu do ar sem resolver seus muitos mistérios, após apresentar o lado paradisíaco do planeta desconhecido em que os últimos sobreviventes da Terra foram parar. Com visual deslumbrante, a criação de Aaron Guzikowski (roteirista de “Os Suspeitos”) tornou-se cultuada por fãs de sci-fi por sua história bastante original, sobre um casal de androides que cria crianças em um planeta deserto, ensinando-lhes valores humanistas e ateístas após a destruição da Terra numa guerra religiosa apocalíptica. No entanto, integrantes da facção religiosa fundamentalista também sobreviveram e chegam ao planeta para estabelecer uma colônia, iniciando uma batalha pela libertação das crianças dos androides.

Os últimos capítulos ofereceram uma inversão narrativa, com as crianças e os androides encontram uma colônia de sobreviventes ateístas. Entretanto, eles também se provavam traiçoeiros.

Gravados em cenários naturais da África do Sul, os episódios iniciais de “Raised by Wolves” contaram com direção do próprio Ridley Scott, em sua estreia em séries, além de seu filho Luke Scott (“Morgan: A Evolução”) e do brasileiro Alex Gabassi (“The ABC Murders”), entre outros. Já o elenco destacou a dinamarquesa Amanda Collin (“Guerreiro da Escuridão”) em sua estreia em inglês, como a Mãe androide superpoderosa, o inglês Abubakar Salim (“Jamestown”) como o Pai, além de Travis Fimmel (“Vikings”) como um integrante da milícia religiosa que não é quem aparentava ser.

 

THE WILDS | AMAZON PRIME VIDEO

 

Interrompida no ponto de uma nova reviravolta, a melhor versão adolescente da premissa de “Lost” – que se destacou entre vários exemplares similares – começou com um grupo de garotas numa ilha deserta, após sobreviverem a um acidente de avião. Só que, na verdade, nunca houve acidente. Elas foram colocadas na ilha de forma proposital. E após passarem por desafios físicos e mentais, descobrem que não foram as únicas a participar da experiência ilegal de cientistas sem ética. Um conjunto de rapazes também está na mesma ilha. Mas os responsáveis pela experiência jamais imaginaram que os dois grupos pudessem se encontrar.

A trama de sobrevivência física e desafio psicológico foi criada pela roteirista-produtora Sarah Streicher (“Demolidor”) e destacava em seu elenco as jovens Sophia Ali (“Grey’s Anatomy”), Jenna Clause (“Cold Brook”), Reign Edwards (“Snowfall”), Shannon Berry (“Hunters”), Helena Howard (“Don’t Look Deeper”), Erana James (“Golden Boy”), Sarah Pidgeon (“Gotham”) e a estreante Mia Healey, além dos adultos Rachel Griffiths (“Brothers & Sisters”), David Sullivan (“Objetos Cortantes”) e Troy Winbush (“Os Goldbergs”).

 

| WARRIOR NUN | NETFLIX

 

O cancelamento mais lamentado do ano atingiu a série de maior aprovação crítica da Netflix, que recebeu 100% no Rotten Tomatoes em sua 2ª temporada. Concebida por Simon Barry, responsável pela cultuada série sci-fi canadense “Continuum” e a menos incensada “Ghost Wars”, a produção era baseada nos quadrinhos “Warrior Nun Areala”, de Ben Dunn, publicados desde 1994 em estilo mangá, sobre uma ordem de noviças rebeldes que lutava contra o anjo do mal e criaturas das trevas.

A atração virou febre quando foi lançada pela Netflix há dois anos. A pandemia, porém, adiou os planos de produção do segundo ano, criando um longo hiato entre os episódios, que podem ter prejudicado seu melhor momento, quando as insinuações lésbicas da trama se concretizaram.

Além de tensão sexual, lutas marciais muito bem coreografadas e muitas reviravoltas, a série também destacou um grupo promissor de atrizes, como a portuguesa Alba Baptista (de “Linhas de Sangue”) em seu primeiro papel em inglês, Toya Turner (vista em “Chicago Med”), Lorena Andrea (“House on Elm Lake”), a estreante Kristina Tonteri-Young (que rouba as cenas com seu kung fu) e a mais experiente Olivia Delcán (da série espanhola “Vis a Vis”), nos papéis das jovens freiras guerreiras.

 

| WESTWORLD | HBO MAX

 

Embora a 4ª temporada pareça encerrar a trama, seus criadores tinham planos de realizar um quinto ano, visando responder todas as perguntas que o final apocalíptico deixou na produção. Bem diferente de tudo que veio antes, os episódios finais se concentraram na luta entre androides e humanos, em meio a um plano de extermínio levado adiante por Charlotte (Tessa Thompson) – a principal antagonista após a morte de Dolores (Evan Rachel Wood) – com ajuda da versão androide do Homem de Preto (Ed Harris) e insetos de laboratório capazes de colocar a humanidade sob seu controle, invertendo a premissa original da série.

Só que nada é realmente o que parece. Entre outros detalhes, Evan Rachel Wood reaparece como uma nova personagem, envolvida em segredos obscuros e stalkeada por Teddy (James Marsden), ambos em participações enigmáticas. São tantos personagens e jornadas que Bernard (Jeffrey Wright) e Ashley (Luke Hemsworth) só ressurgem no 3º episódio, junto com uma força de “resistência” no deserto.

Ainda mais intrincada que o costume, a trama demora a encaixar, o que talvez tenha afastado o interesse do público e da crítica, que fizeram das primeiras temporadas grandes sucessos da HBO. Mas não seria “Westworld” se não fosse lenta e cerebral.