A cobertura do quebra-quebra de domingo (8/1) em Brasília foi equivalente à cobertura de uma zona de guerra para a imprensa presente no local. Notas de repúdio do Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e da Federação Nacional de Jornalistas revelaram que os profissionais correram risco de vida, sofreram agressões físicas, ficaram sob mira de revólveres e tiveram equipamento roubado por criminosos simpatizantes de Jair Bolsonaro.
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e a Federação Nacional de Jornalistas manifestam seu mais profundo repúdio aos atos golpistas e terroristas ocorridos neste domingo na Esplanada dos Ministérios e à violência contra profissionais da imprensa, impedidos de realizar seu trabalho com segurança. Ao mesmo tempo, o Sindicato e a Fenaj se solidarizam com os e as colegas feridos/das durante o exercício da profissão”, afirmaram as instituições em nota.
Entre as vítimas, estão mulheres e representantes da imprensa dos Estados Unidos. Uma jornalista da revista New Yorker foi cercada pela turba e agredida, precisando ser socorrida pela segurança do legislativo. Outra, do Washington Post, foi derrubada, chutada e teve os cabelos puxados.
“Eu e colegas jornalistas fomos agredidos enquanto trabalhávamos na cobertura de atos terroristas em Brasília”, desabafou Mariana Dias no Twitter. “Fui cercada, chutada, empurrada, xingada. Quebraram meus óculos, puxaram meu cabelo, tentaram pegar meu celular. É preciso punir essas pessoas. Isso é crime”.
Uma fotojornalista do Metrópoles não só foi agredida por cerca de 10 homens como teve os pertences roubados.
“Se juntaram ao meu redor gritando e xingando. Tentei sair de lá, mas me deram socos na barriga e pegaram meus equipamentos enquanto me chutavam”, explicou a fotojornalista, sem ter seu nome publicado.
Repórteres fotográficos da Folha e das agências internacionais Reuters e France Press também relataram que tiveram equipamentos, documentos e celulares roubados. No caso de um repórter da Band, ele teve o celular quebrado.
Em relato mais grave, um repórter do jornal O Tempo disse que ficou sob a mira de revólveres enquanto foi agredido por um grupo atrás do outro.
“Colocaram uma arma na minha cintura, dizendo que eu ia morrer. Outro apareceu com outra arma, colocada nas minhas costas. E não paravam de me dar tapa na cara, xingar”, ele relatou ao jornal, sem que fosse identificado por nome.
“Fizeram vídeos do meu rosto. Começaram a compartilhar em grupos de bolsonaristas. Pediam para ‘conferir’. Queriam saber quem eu era, meu nome e, principalmente, minha profissão. Após não acharem nada que me ‘incriminasse’, me mandaram ir embora. ‘Vaza, vaza daqui!’ Saí em um “corredor polonês”, à base de socos, chutes e tapas”, continuou.
“Quando cheguei na rampa do Congresso, outros terroristas me pararam, me seguraram. ‘Você que é o petista, o infiltrado?1, diziam, repetidas vezes. Me pediram documentos, mexeram na minha mochila. Me liberaram, mas, na entrada da rampa, outro grupo fez o mesmo. Aí, avistei um grupo de policiais militares perto do Palácio Itamaraty, ao lado de três viaturas. Decidi caminhar. Nada de correr. Ainda ouvia os gritos de ‘infiltrado’, ‘petistas’. Dois ou três me seguiam”.
“Ao chegar nos policiais, pedi ajuda, socorro. Contei o que havia acontecido comigo. Mostrei meus documentos. Perguntei se podia ficar no cercadinho que haviam montado, até chegar um colega de trabalho, de profissão, de qualquer outro veículo, que pudesse me ajudar. Os agentes falaram que não. Responderam que nada podiam fazer por mim”.
Ele concluiu dizendo que foi salvo por um técnico da EBC (a estatal de comunicação), que tinha ido à Praça dos Três Poderes por curiosidade para ver o que estava acontecendo, e o levou até seu carro para tirá-lo de lá.