Cassia Kis dizia que pedir golpe era “estupidez”. Saiba porque ela mudou de ideia

Bolsonarista convicta, a atriz Cassia Kis tem frequentado manifestações antidemocráticas no Rio de Janeiro a favor da intervenção do Exército Brasileiro contra a democracia, além de puxar correntes de orações em defesa […]

Reprodução/Twitter

Bolsonarista convicta, a atriz Cassia Kis tem frequentado manifestações antidemocráticas no Rio de Janeiro a favor da intervenção do Exército Brasileiro contra a democracia, além de puxar correntes de orações em defesa de um golpe militar no país. Mas há cinco anos chamava os que tinham esse comportamento de estúpidos.

Foi na época da novela “Os Dias Eram Assim” (2017), da Globo, na qual viveu a bibliotecária Vera. Passada na época da ditadura brasileira (1964-1985), a novela mostrava a censura, perseguição e repressão sofrida pelos que defendiam a liberdade no país.

Na trama, Renato Góes vivia o filho da atriz, que foi obrigado a fugir para não ser morto pelos militares. A personagem de Cassia escondeu o paradeiro do filho e por isso teve a biblioteca incendiada.

Durante entrevistas da época, a atriz afirmou que os temas da novela ainda eram relevantes e a faziam se revoltar contra quem pedia a intervenção militar no Brasil atual.

“É um absurdo pensar que tem gente que desconhece esse período e tudo o que a ditadura representou para o nosso país. Daí, vem o questionamento de para onde caminha o nosso ensino, que está esquecendo de uma memória tão recente”, disse ela em entrevista à Globo.

“Como alguém não sabe o que é AI-5 e o que tudo aquilo significou? Isso resulta em pessoas falando que querem a ditadura de volta hoje em dia. Se alguém souber de fato o que foi esse período, nunca vai pensar em uma estupidez dessa”, acrescentou.

Na mesma live de outubro, em que fez comentários homofóbicos polêmicos, Cassia revelou o que a fez ter uma guinada tão grande de opinião e comportamento. Falando com a jornalista Leda Nagle, ela disse que a “pandemia foi maravilhosa” por tê-la ajudada a se descobrir conservadora.

“Eu estou com a vida cheia de Deus muito recente. Essa pandemia foi maravilhosa pra mim, ela me trouxe a verdade. Primeiro, através de um sacerdote incrível, e eu conheci o Brasil Paralelo. Eu fiquei assustada porque eram de direita e não que eu fosse de esquerda, porque eu já tinha me divorciado da esquerda lá atrás, em 2014. Mas ouvi falar do Olavo de Carvalho e sai fora do negócio. Mas uma coisa vai levando à outra, evidente. Eu comecei a ouvir o padre Paulo Ricardo, que é esse sacerdote que fica em Cuiabá… quando eu vi, eu tava descobrindo a direita”, contou.

O padre Paulo Ricardo é um seguidor ultraconservador de Olavo de Carvalho e apoiador de Jair Bolsonaro, que espalha conspirações da extrema direita, como “marxismo cultural” e “ideologia de gênero”. Em 2019, ele foi desmentido pela Embaixada da Suécia por divulgar fake news sobre a educação escolar do país, com o objetivo de reforçar teses mentirosas da tal “ideologia de gênero”.

Brasil Paralelo é uma empresa que produz vídeos sobre política e história com visão extremista, também difusora de teses de Olavo de Carvalho e de diversas teorias de conspirações. Em março de 2019, a empresa alemã de notícias Deutsche Welle classificou a Brasil Paralelo como negacionista (significa negar fatos e a realidade) num artigo intitulado “O negacionismo histórico como arma política”. “Em seus vídeos, o grupo Brasil Paralelo alega querer apresentar uma História ‘livre de narrativas ideológicas’, porém, segundo historiadores ouvidos pela DW Brasil, faz justamente o contrário”, dizia o texto.

O negacionismo da empresa também se estendeu à saúde, com o lançamento do documentário “7 Denúncias: As Consequências do Caso Covid-19”, que direcionou críticas às medidas de distanciamento físico no combate à pandemia, acusando governadores de serem ditadores por seguirem as orientações da Organização Mundial da Saúde.

O vídeo mais recente publicado no Youtube da Brasil Paralelo se chama “Por que os últimos filmes da Marvel foram um fracasso?”, em que comentaristas culpam supostas baixas bilheterias pelo que chamam de “lacração” (outro termo bolsonarista) do estúdio, que inclui a representação de heroínas feministas, heróis negros e personagens LGBTQIAP+.

Detalhe: os três últimos filmes da Marvel são os maiores sucessos do cinema em 2022. Lançado neste fim de semana, “Pantera Negra: Wakanda para Sempre” se tornou a maior bilheteria de estreia do mês de novembro em todos os tempos nos EUA e Canadá – com heróis negros e feministas.