Conheça a história real do assassino de “O Enfermeiro da Noite”

O filme “O Enfermeiro da Noite” (The Good Nurse), que estreou na Netflix nessa quinta (26/10), narra uma assustadora história real. O personagem vivido na tela por Eddie Redmayne (“Animais Fantásticos: Os […]

Divulgação/Netflix

O filme “O Enfermeiro da Noite” (The Good Nurse), que estreou na Netflix nessa quinta (26/10), narra uma assustadora história real. O personagem vivido na tela por Eddie Redmayne (“Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”) foi responsável por matar mais de 300 pessoas e conseguiu se safar por muito tempo, apesar de ter sido flagrado repetidamente pelos hospitais que o empregavam.

Baseado no livro homônimo de Charles Graeber, “O Enfermeiro da Noite” foi escrito por Krysty Wilson-Cairns (roteirista da série “Penny Dreadful”) e dirigido por Tobias Lindholm (“Sequestro”), e conta a história de Charlie Cullen, enfermeiro que era considerado um bom amigo e profissional, mas usava seu trabalho hospitalar para matar impunemente, tornando-se um dos serial killers mais bem-sucedidos de todos os tempos.

Chastain vive uma enfermeira com quem ele trabalhava e que, confrontada com a verdade pela polícia, arriscou tudo para conseguir provas e incriminá-lo.

A trama é narrada pelo ponto de vista de Amy Loughren, uma mãe solteira com problemas cardíacos que trabalhava como enfermeira no turno da noite, junto do criminoso.

Conforme é mostrado em “O Enfermeiro da Noite”, ela começou a suspeitar do seu novo colega de trabalho depois que uma série de mortes misteriosas de pacientes desencadearam uma investigação. Eventualmente, Loughren arriscou a sua vida e a segurança dos seus filhos para descobrir a verdade sobre Charlie Cullen: que ele estava injetando soro fisiológico misturado com insulina ou digoxina, para matar pacientes por overdose.

Na vida real, Cullen começou sua carreira na enfermagem em 1987, no hospital Saint Barnabas Medical Center de Nova Jersey, um ano antes de matar o primeiro paciente. Como sentiu-se impune, continuou matando pacientes até deixar o hospital, quatro anos depois, quando as autoridades começaram a investigar bolsas intravenosas contaminadas. Apesar disso, ele nunca foi acusado de nenhum crime e um mês depois conseguiu outro emprego na enfermagem de outro hospital, o Hospital Warren, onde deu sequência à sua matança.

Cullen cometeu seus assassinatos por mais de uma década e meia, trabalhando e matando em muitos hospitais diferentes. Sempre que suas ações eram investigadas e descobertas, os advogados e administradores do hospital decidiam demiti-lo, mas não denunciavam os crimes à polícia para evitar que fossem processados por homicídio culposo.

Pelo menos cinco hospitais diferentes sabiam o que Cullen estava fazendo, mas não fizeram nada para detê-lo.

E essa decisão dos hospitais de encobrir a verdade permitiu a Cullen continuar trabalhando como enfermeiro – e, consequentemente, continuar matando pacientes.

Isso só mudou quando ele começou a trabalhar com Loughren, no hospital Somerset Medical Center, e ela se recusou a ignorar os atos do colega. “Assistir ao filme me deu permissão para ter orgulho de mim mesma”, disse a verdadeira Loughren à revista People. “Eu apareci como mãe. Apareci como enfermeira. Apareci como amiga. A única razão pela qual Charlie parou de matar foi por causa da minha amizade com ele.”

O filme fez questão de usar os nomes reais de Loughren e Cullen e dos detetives envolvidos na investigação. Porém, todas as vítimas e suas famílias tiveram as identidades reais preservadas.

A roteirista Krysty Wilson-Cairns disse à Vanity Fair que mudou os nomes das vítimas para não “revitimizá-las”. “Eu não conheci as famílias das vítimas para realmente entender quem eram essas pessoas. Então, francamente, eu me sentiria um pouco suja [se usasse as suas identidades]. E a maioria das pessoas não podia dar consentimento porque estava morta. Ou às vezes as famílias não sabiam. No caso de muitas vítimas de Charlie, as famílias ainda não sabem [que os parentes foram assassinados]”, disse.

Wilson-Cairns também é bastante pragmática ao dizer que “não há como fazer de um filme a verdade absoluta porque ele é composto de várias perspectivas”. “Nunca pode ser um documento verdadeiro; nunca deve ser apresentado em tribunal”, apontou.

Ainda assim, ela se preocupou em tratar as situações com o máximo de verossimilhança. A cena em que os detetives precisam exumar um corpo para uma autópsia, por exemplo, aconteceu de verdade.

E assim como é mostrado no filme, Loughren começou a suspeitar que Cullen poderia estar por trás das misteriosas mortes dos pacientes. Ela se tornou uma informante da polícia e auxiliou numa investigação que levou seis meses para obter provas suficientes para prender Cullen em 2003. Mesmo depois de ele ter sido preso, a enfermeira foi essencial para conseguir uma confissão dele, uma vez que as evidências não eram suficientes para condená-lo.

Embora seja a verdadeira heroína da história, a identidade de Loughren só foi revelada em 2014, com a publicação do livro de Charles Graeber no qual o filme se baseia.

Em entrevista à revista Entertainment Weekly, Jessica Chastain contou que conheceu a verdadeira Loughren, que foi fundamental para ajudá-la a interpretar seu problema de saúde. “Perguntei a ela sobre sua condição cardíaca, porque ela precisava de um transplante de coração durante esse período. E isso para mim foi o que realmente me ajudou a interpretar a personagem e entender o que significava quando eu entrei em Afib [também conhecido como fibrilação atrial], o que significava quando meu coração começava a bater em um certo nível, o que faria para minha respiração, o que faria com a temperatura da minha pele, se eu ficasse úmida – todas essas coisas eram muito importantes.”

Graças aos esforços de Loughren, o assassino está atualmente cumprindo pena de prisão perpétua – 11 consecutivas, que ainda podem aumentar. Diante de todas essas condenações, a data de liberdade condicional mais próxima para ele seria 10 de junho do ano de 2388.

A enfermeira convenceu Cullen a admitir que ele cometeu 29 assassinatos, mas ele eventualmente disse aos investigadores que, na verdade, matou 40 pessoas. Porém, durante a pesquisa do seu livro, Graeber descobriu que Cullen disse aos investigadores que ele “dosava” de três a quatro pessoas por semana. Especialistas apontam que, se esse número for real e for multiplicado pelos 16 anos de carreira de Cullen, o número de mortes pode ser superior a 400, o que o torna o pior serial killer da história.

O assassino, que ficou conhecido como “Anjo da Morte”, concedeu uma entrevista em 2013 ao programa investigativo “60 Minutes”. Na ocasião, ele admitiu que sabia que o que estava fazendo era errado, mas também disse que não pretendia parar, caso não fosse pego. “Achei que as pessoas não estavam mais sofrendo. Então, em certo sentido, eu pensei que estava ajudando”, disse ele, mas não explicou os motivos que o levaram a começar a matar. “Não há justificativa. A única coisa que posso dizer é que me senti sobrecarregado na época. Parecia que precisava fazer alguma coisa, e fiz. E isso não é resposta para nada.”

O elenco de “O Enfermeiro da Noite” ainda conta com Kim Dickens (“Fear the Walking Dead”), Noah Emmerich (“The Americans”) e Nnamdi Asomugha (“When the Street Lights Go On”). Produzido pelo cineasta Darren Aronofsky (“Mãe!”), o filme já pode ser visto na Netflix. Assista abaixo ao trailer.