Academia pede desculpas à atriz indígena que causou furor no Oscar 1973

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar, pediu desculpas publicamente pela maneira como tratou a atriz indígena Sacheen Littlefeather (“A Volta dos Bravos”) depois que ela apareceu […]

Divulgação/NBC

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar, pediu desculpas publicamente pela maneira como tratou a atriz indígena Sacheen Littlefeather (“A Volta dos Bravos”) depois que ela apareceu em nome de Marlon Brando para recusar o Oscar que o ator venceu pelo trabalho em “O Poderoso Chefão” (1972).

Na ocasião, Littlefeather leu uma mensagem de Brando na qual destacava, entre outras coisas, os estereótipos nativos americanos perpetuados pela indústria do entretenimento. O discurso causou furor e foi considerado uma brincadeira de mau gosto na época. Agora, a Academia admitiu que o ato levou Littlefeather a ser “boicotada profissionalmente, pessoalmente atacada, assediada e discriminada pelos últimos 50 anos”.

A própria Littlefeather já havia afirmado isso em um documentário curta-metragem intitulado “Sacheen” (2019). No curta, ela disse que o próprio Brando elogiou a postura dela no Oscar, mas depois a abandonou. Segundo Littlefeather, a polêmica a colocou na lista negra de Hollywood e, consequentemente, ela não conseguiu mais nenhum trabalho.

O pedido de desculpas foi feito por meio de uma carta assinada pelo presidente da Academia, David Rubin, e enviada em junho. Além de divulgar o conteúdo da carta (que pode ser lida abaixo), a Academia também programou uma aparição de Littlefeather no Museu do Cinema, em setembro.

“Em relação ao pedido de desculpas da Academia para mim, nós indígenas somos pessoas muito pacientes – faz apenas 50 anos! Precisamos manter nosso senso de humor sobre isso o tempo todo. É o nosso método de sobrevivência”, ela disse, por meio de um comunicado à imprensa.

Littlefeather elogiou a iniciativa do programa no Museu de Cinema, que será totalmente desenvolvido por ela e vai acontecer em 17 de setembro.

“Eu nunca pensei que viveria para ver o dia deste programa acontecer, com artistas nativos tão maravilhosos e Bird Runningwater, um produtor de televisão e cinema, que também guiou o compromisso do Instituto Sundance com cineastas indígenas por 20 anos através dos Laboratórios do Instituto e Festival de Cinema de Sundance. Este é um sonho tornado realidade. É profundamente animador ver o quanto mudou desde que não aceitei o Oscar há 50 anos. Estou muito orgulhosa de cada pessoa que vai aparecer no palco.”

Leia abaixo a carta de David Rubin na íntegra.

“Cara Sacheen Littlefeather,

Escrevo para você hoje uma carta que devo há muito tempo em nome da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com humilde reconhecimento de sua experiência no 45º Oscar.

Quando você subiu no palco em 1973 para não aceitar o Oscar em nome de Marlon Brando, mencionando a deturpação e maus-tratos dos nativos americanos pela indústria cinematográfica, você fez uma declaração poderosa que continua a nos lembrar da necessidade de respeito e a importância da dignidade humana.

O abuso que você sofreu por causa dessa declaração foi descabido e injustificado. A carga emocional que você viveu e o custo para sua própria carreira em nossa indústria são irreparáveis. Por muito tempo, a coragem que você demonstrou não foi reconhecida. Por isso, oferecemos nossas mais profundas desculpas e nossa sincera admiração.

Não podemos realizar a missão da Academia de ‘inspirar a imaginação e conectar o mundo através do cinema’ sem o compromisso de facilitar a mais ampla representação e inclusão que reflita nossa diversificada população global.

Hoje, quase 50 anos depois, e com a orientação da Academy’s Indigenous Alliance, estamos firmes em nosso compromisso de garantir que as vozes indígenas – os contadores de histórias originais – sejam contribuintes visíveis e respeitados para a comunidade cinematográfica global. Dedicamo-nos a promover uma indústria mais inclusiva e respeitosa que alavanque um equilíbrio entre arte e ativismo para ser uma força motriz para o progresso.

Esperamos que você receba esta carta com espírito de reconciliação e como reconhecimento de seu papel essencial em nossa jornada como organização. Você está para sempre respeitosamente enraizado em nossa história.

Com calorosas saudações,

David Rubin
Presidente, Academia de Artes e Ciências Cinematográficas”