Nehemiah Persoff (1919–2022)

Nehemiah Persoff, ator veterano que apareceu em dezenas de séries e filmes clássicos, morreu na terça (5/4) num hospital em San Luis Obispo, Califórnia. Ele tinha 102 anos. Isralense nascido em Jerusalém, […]

Divulgação/ABC

Nehemiah Persoff, ator veterano que apareceu em dezenas de séries e filmes clássicos, morreu na terça (5/4) num hospital em San Luis Obispo, Califórnia. Ele tinha 102 anos.

Isralense nascido em Jerusalém, Persoff tinha 10 anos quando sua família migrou para os EUA em 1929. Ele serviu no Exército dos EUA e trabalhou como eletricista no metrô de Nova York, antes de virar ator.

Com 18 anos, estreou na Broadway, chegando a trabalhar com o famoso diretor Elia Kazan em 1947. Por conta disso, foi convidado a participar de uma reunião organizada por Kazan, ao lado de John Garfield, Marlon Brando, Karl Malden, Montgomery Clift, Kim Hunter e Maureen Stapleton, entre outros, que deu origem ao Actors Studio, um centro de treinamento de atores de Nova York que originou o chamado “Método” de atuação e revolucionou a profissão.

Sua estreia nas telas foi como figurante no clássico noir “Cidade Nua” (1948), de Jules Dassin, seguindo por outra ponta como taxista numa das cenas mais famosas de “Sindicato dos Ladrões” (1954), com Marlon Brando no banco traseiro e Elia Kazan atrás das câmeras.

Ele também apareceu em “O Homem Errado” (1956), de Alfred Hitchcock, como cunhado de Henry Fonda, mas preferia a Broadway a Hollywood. Por conta disso, apareceu em várias montagens que marcaram época – inclusive “Peter Pan” com Jean Arthur e Boris Karloff.

Devido a seu trabalho teatral, o ator tinha dificuldades em sair de Nova York, cidade que durante décadas também foi o centro das produções televisivas dos EUA. A situação estimulou suas muitas aparições em episódios de séries populares entre os anos 1950 e 1980, como a atração baseada no filme “Cidade Nua”, “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Além da Imaginação”, “Os Intocáveis”, “Gunsmoke”, “Missão: Impossível”, “Agente da UNCLE”, “Túnel do Tempo”, “Viagem ao Fundo do Mar”, “Terra de Gigantes”, “James West”, “A Ilha dos Birutas”, “O Rei dos Ladrões”, “A Noviça Voadora”, “Chaparral”, “Mod Squad”, “Havaí 5-0”, “O Homem Invisível”, “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, “A Mulher Biônica”, “Mulher-Maravilha”, “Galactica: Astronave de Combate”, “Ilha da Fantasia”, “MacGyver – Profissão: Perigo” e “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, entre inúmeras outras.

Em pouco tempo, ele se estabeleceu como o vilão da semana na TV, condição que acompanhou sua escalação em papéis de gângsteres e pistoleiros no cinema. Ele foi malvadão até naquela que é considerada a melhor comédia de todos os tempos, “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), de Billy Wilder, em que interpretou o mafioso Little Bonaparte. Outros desempenhos notáveis incluíram Johnny Torrio, mentor de “Capone” (1959), e o implacável Graile, rival do cowboy vivido por John Wayne no western “Comancheros” (1961), de Michael Curtis.

Curiosamente, Persoff demorou a se destacar como interprete de judeus, o que veio a acontecer no dramático “A Viagem dos Condenados” (1976), de Stuart Rosenberg, sobre a tentativa de fuga de judeus da Alemanha nazista a bordo de um navio. Mas seu desempenho mais celebrado foi justamente como um judeu israelense: o pai que ensina secretamente o Talmud para a filha vivida por Barbra Streisand, no drama musical “Yentl” (1983).

Também participou de duas filmagens do Novo Testamento: “A Maior História de Todos os Tempos” (1965), de George Stevens, e “A Última Tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese.

E encontrou sucesso como dublador com a animação “Um Conto Americano” (1989), dando voz ao patriarca da família do protagonista, o ratinho Fievel. O desenho foi um dos maiores fenômenos de bilheteria produzidos fora da Disney (pela Amblin, de Steven Spielberg) até então e ganhou mais três continuações (duas delas em vídeo no final dos anos 1990), que contaram novamente com dublagem de Persoff.

Seu último trabalho foi como rabi na premiadíssima minissérie “Anjos na América”, vencedora de 11 troféus no Emmy de 2004.

Persoff se aposentou da atuação no começo do século 21, mas não abandonou a carreira artística, dedicando-se à pintura. Ele passou seus anos finais trabalhando num estúdio ao ar livre em sua casa em Cambria, perto da costa da Califórnia.