O cantor, compositor, guitarrista e também ator, produtor de cinema e TV e diretor Michael Nesmith morreu nesta sexta (10/12) de causas naturais em sua casa na Califórnia. Ele tinha 78 anos e encerrara há poucas semanas uma turnê de despedida de sua famosa banda, The Monkees, da qual agora só resta o baterista Micky Dolenz.
Concebida por ninguém menos que o cineasta Bob Rafelson como a resposta americana ao sucesso dos Beatles, a banda foi reunida por meio de audições de diferentes músicos, que também precisavam demonstrar suas capacidades como atores para passar no teste e ficar famosos.
Lançada em setembro de 1966, a série “The Monkees” não demorou a virar febre e popularizar diversos hits cantados nos episódios. Mas os artistas sempre se incomodaram com o fato de serem vistos como fantoches e logo passaram a compor suas próprias músicas e fazer shows para mostrar seu verdadeiro talento. Para deixar bem claro que sabiam tocar, o último episódio da 1ª temporada foi “The Monkees on Tour”, com imagens gravadas em shows da banda, mostrando que eles eram músicos e não atores fingindo-se de roqueiros.
A série durou dois anos e conquistou dois Emmys (Melhor Série de Comédia e Direção). Mas o mais interessante é que seu cancelamento apenas fortaleceu a carreira musical da banda. O final da produção televisiva transformou de vez a banda fictícia num atração do mundo real, graças à disposição do quarteto em permanecer junto, fazer mais shows e lançar novos discos. E que discos! “Headquarters” (1967) e “Pisces, Aquarius, Capricorn & Jones” (1968) foram considerados os melhores da carreira da banda. E “Headquarters” ainda conseguiu uma façanha, ao atingir o 1º lugar da parada de sucessos sem render singles.
Nesta época, eles também chegaram a ter seu próprio longa-metragem, “Os Monkees Estão Soltos” (Head, de 1968), co-escrito pelo ator Jack Nicholson e dirigido por Rafelson em sua estreia como cineasta – depois, faria clássicos como “Cada um Vive como Quer” (1970) e “O Destino Bate à sua Porta” (1981).
O filme virou cult e inspirou a rede NBC a produziu um último telefilme da banda em 1969, “33⅓ Revolutions Per Monkee”. Mas a falta de hits, motivada pela necessidade de provar seus próprios talentos, acabou criando atrito entre os integrantes. Desentendimentos forçaram a saída de Tork em 1968 e, um ano depois, Michael Nesmith também largou o grupo.
Micky Dolenz e Davy Jones continuaram gravando e tocando juntos como The Monkees até 1971, quando o glam e o rock progressivo tornaram seu som ultrapassado. Mas eles nunca perderam contato, sempre dispostos a colaborar em novos trabalhos individuais de algum dos amigos.
Michael Nesmith foi o Monkee que permaneceu mais distante do grupo. Em vez da música, acabou voltando-se para a TV e o cinema, escrevendo o roteiro de “O Cavaleiro do Tempo” (1982) e produzindo, entre outros, os filmes cults “Repo Man – A Onda Punk” (1984), com trilha punk rock, e “Tapeheads” (1988), sobre a indústria dos videoclipes, após ter ficado milionário com a herança de sua mãe, inventora do líquido corretivo branco – item obrigatório dos escritórios da era analógica.
A propósito, Michael Nesmith também criou a MTV.
Em 1977, ele produziu o clipe de sua música solo “Rio”. Ninguém sabia o que era videoclipe na época, mas “Rio” já tinha toda a estética que marcaria a geração MTV. Foi o primeiro vídeo musical feito para a TV que não incluía uma banda tocando ao vivo. Em vez disso, mostrava uma historinha com diferentes cenários, danças e vários figurantes.
Para exibir o primeiro clipe, o roqueiro criou o primeiro programa de clipes musicais da TV. Chamado de “PopClips”, a atração batizou os videoclipes e também inventou os VJs, já que trazia apresentadores (incluindo Charles Fleischer, a futura voz de Roger Rabbit) para fazer comentários e introduzir os poucos vídeos de música que começavam a ser produzidos.
Lançado no canal pago infantil Nickelodeon em 1980 pelo executivo John Lack, o programa estourou em audiência, tornando-se um dos favoritos das crianças. Vice-presidente da Warner, Lack cresceu o olho e negociou a compra do formato com Nesmith.
Naquela época, o estúdio tinha lançado o primeiro canal pago temático, The Movie Channel, dedicado a filmes, e Lack contratou o responsável por aquele lançamento, Bob Pittman, para fazer o mesmo com um canal totalmente musical, usando como base o formato de “PopClips”. Quando eles receberam sinal verde, procuraram Nesmith para lhe oferecer um cargo executivo, em reconhecimento a sua iniciativa. Mas o músico recusou.
Ele preferiu fazer um especial, “Elephant Parts”, que combinava clipes, esquetes de humor, e comerciais falsos. Lançada direto em vídeo, a produção venceu o primeiro Grammy entregue para a categoria de Vídeo Musical do Ano.
“Elephant Parts” também se provou uma grande influência no novo canal, que também passou a incluir vídeos autorais em seus comerciais. O novo projeto de Nesmith foi lançado em 1 de julho de 1981. Exatamente um mês depois, em 1 de agosto de 1981, a MTV foi ao ar.
Rico e disposto a deixar o passado para trás, Nesmith também se recusou a participar da primeira turnê de reencontro dos Moonkees, em comemoração aos 20 anos da banda, em 1986.
Mas dez anos depois mudou de ideia. O quarteto original se reuniu pela primeira vez, desde 1968, no aniversário de 30 anos da banda, em 1996, época em que os Monkees também gravaram um álbum de músicas inéditas e ganharam um programa especial na TV, “Hey, Hey, It’s the Monkees”, que Nesmith dirigiu.
Davy Jones faleceu em 2012. Em sua homenagem, Nesmith topou voltar a se reunir com Dolenz e Tork para uma nova turnê, que projetou vídeos de Jones durante os shows.
Peter Tork morreu em 2019. E novamente os sobreviventes decidiram homenagear o amigo com novos shows. Por causa da pandemia, a turnê só pôde ser realizados entre setembro e novembro deste ano. E foi com estas últimas apresentações que Nesmith também, literalmente, despediu-se dos fãs.
“Meu coração está partido”, tuitou Micky Dolenz nesta sexta. “Perdi um querido amigo e parceiro. Agradeço muito por termos conseguido passar os últimos meses fazendo o que mais gostamos, cantando e sorrindo”, acrescentou o baterista, junto de uma foto dos dois se abraçando.
Lembre abaixo a música-tema e cinco hits dos Monkees
I’m heartbroken.
I’ve lost a dear friend and partner.
I’m so grateful that we could spend the last couple of months together doing what we loved best – singing, laughing, and doing shtick.
I’ll miss it all so much. Especially the shtick.
Rest in peace, Nez.
All my love,
Micky pic.twitter.com/xe8i5jmNgL— Micky Dolenz (@TheMickyDolenz1) December 10, 2021