Ricardo Darín vai condenar ditadura no primeiro filme argentino da Amazon

A Amazon vai produzir seu primeiro longa-metragem argentino. Que será, como não poderia deixar de ser, estrelado por Ricardo Darín (“Relatos Selvagens”), astro mais proeminente do cinema do país. Mais interessante que […]

Divulgação/Festival de San Sebastián

A Amazon vai produzir seu primeiro longa-metragem argentino. Que será, como não poderia deixar de ser, estrelado por Ricardo Darín (“Relatos Selvagens”), astro mais proeminente do cinema do país.

Mais interessante que o elenco é o tema, que aponta como Brasil e Argentina optaram por caminhos diferentes para lidar com o passado sombrio de suas ditaduras e, como resultado, vivem hoje momentos muito diferentes. Em contraste com a reação militar contra a Comissão da Verdade e a fanfarronice de que nunca houve ditadura no Brasil, a produção da Amazon, batizada de “Argentina, 1985”, é um filme inspirado no julgamento de militares que governaram o país com mão de ferro entre 1976 e 1983.

“Uma batalha de Davi contra Golias com os protagonistas menos esperados”, descreve o comunicado da Amazon Studios.

“Argentina, 1985” se inspira no trabalho da equipe de promotores que realizou a denúncia no julgamento de nove comandantes da ditadura (1976-1983).

A sentença lida em 9 de dezembro de 1985 condenou o ex-ditador Jorge Videla e o ex-chefe da Marinha Emilio Massera à prisão perpétua; o ex-general Roberto Viola, sucessor de Videla, a 17 anos anos; o chefe da Marinha Armando Lambruschini a oito anos e meio e o Chefe da Aeronáutica Omar Graffigna, a quatro anos e meio. Os outros quatro réus foram absolvidos.

“Senhores juízes, nunca mais”, foi a frase pronunciada pelo já falecido promotor Julio Strassera para encerrar uma emocionada declaração da promotoria, também composta por Moreno Ocampo, que mais tarde se tornou promotor do Tribunal Penal Internacional.

No episódio, a procuradoria “ousou contra o relógio e sob constante ameaça acusar a mais sangrenta ditadura militar argentina”, acrescenta o comunicado.

Foi a primeira vez que o sistema de justiça argentino ouviu os relato de testemunhas e sobreviventes de centros clandestinos de detenção e tortura da ditadura, que deixou 30 mil desaparecidos, segundo organizações de direitos humanos. A história causou comoção no país e não houve reação militar à condenação dos ditadores e comandantes das forças armadas. O país se pacificou e nunca mais ouviu-se falar em golpe na Argentina.

Tudo ao contrário do que aconteceu no Brasil, onde a impunidade marcou o final da ditadura e a palavra “golpe” frenquenta cada vez mais o noticiário cotidiano.

O filme tem direção de Santiago Mitre e trará Ricardo Darín e Peter Lanzani (“O Clã”) interpretando os promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo. Será o quarto filme da parceria entre Mitre e Darín, após “A Cordilheira” (2017), “Elefante Branco” (2012) e “Abutres” (2010) – este último foi apenas escrito pelo cineasta. Todos excepcionais.

As filmagens vão acontecer nas locações reais onde os fatos ocorreram.

A estreia está programada para 2022, com lançamento nos cinemas argentinos antes de ficar disponível no Amazon Prime Video.