Maurice Capovilla (1936-2021)

O cineasta Maurice Capovilla morreu no sábado (29/5), aos 85 anos, em decorrência de uma doença pulmonar. O anúncio foi feito por sua mulher, Marilia Alvim, em seu perfil no Facebook. Um […]

Divulgação/Data Cinematográfica

O cineasta Maurice Capovilla morreu no sábado (29/5), aos 85 anos, em decorrência de uma doença pulmonar. O anúncio foi feito por sua mulher, Marilia Alvim, em seu perfil no Facebook.

Um dos últimos mestres do cinema que nasceu durante a ditadura militar, na encruzilhada entre o enfrentamento e a alegoria, ele sofria de Alzheimer há cinco anos.

Capovilla deixou sua marca em obras que retratavam as condições de vida dos brasileiros, como “Bebel, Garota Propaganda” (1968), seu primeira longa-metragem, inspirado no livro “Bebel que a Cidade Comeu”, de Ignácio Loyola Brandão, sobre uma menina pobre contratada para ser o rosto de uma marca de sabonetes.

O longa seguinte, “O Profeta da Fome” (1969), marcou época por juntar a estética da fome do Cinema Novo com os temas contraculturais do cinema marginal. Na trama, José Mojica Marins vivia um faquir decadente, que ao ser expulso de um circo pegava a estrada e virava ídolo religioso de uma pequena cidade.

Foi um dos raros desempenhos de Mojica no cinema sem representar Zé do Caixão, seu icônico personagem. Três anos depois, os dois trocaram de papéis, com Capovilla virando ator dirigido por Mojica em “O Ritual dos Sádicos” (1970), um dos mais famosos filmes de Zé do Caixão.

Ele também filmou “Noites de Iemanjá” (1971), misturando misticismo e terror, e o celebrado drama “O Jogo da Vida” (1977), premiado no Festival de Gramado, com música de João Bosco, Aldir Blanc e Radamés Gnatalli, e atuação inspirada de Lima Duarte, Gianfrancesco Guarnieri e Maurício do Valle como três malandros que ganham a vida com trapaças de sinuca.

Como diretor, fez tanto ficções como documentários. Um de seus primeiros curtas, “Subterrâneos do Futebol” (1965), chamou atenção por mostrar o esporte por um ângulo pouco glamouroso, tornando-se pioneiro do “cinema verdade” no país. Outro, “Meninos do Tietê” (1963), foi eleito o melhor filme na 1ª Semana Latino-Americana de Cinema Documental, em Buenos Aires.

Ainda gravou “O Último Dia de Lampião” (1975), documentário feito durante sua passagem pela rede Globo, onde foi diretor do “Globo Repórter”. A versatilidade do cineasta também o tornou diretor de núcleo da Rede Bandeirantes. E na Band fez até novela, comandando “O Todo-Poderoso” (1979).

Afastado dos cinemas desde 1980, Capovilla voltou em 2003 com “Harmada”, adaptação do romance de João Gilberto Noll com toques de surrealismo e metalinguagem. E encerrou a carreira com “Nervos de Aço” (2016), novo mergulho marginal, que transformava Arrigo Barnabé em ator e propunha releituras dos sambas de Lupicínio Rodrigues num universo teatral.