O especial de reencontro de “Friends” foi censurado na China, resultando na eliminação dos convidados musicais da atração, Lady Gaga, Justin Bieber e BTS.
Eles não são bem-vistos pelos órgãos de controle chineses por diferentes razões. Justin Bieber, por exemplo, entrou na lista negra por ter postado em seu Instagram fotos do Santuário Yasukuni, em Tóquio, no Japão, em 2014. O local presta homenagem aos mortos da 2ª Guerra Mundial, incluindo os criminosos de guerra. A China achou ofensivo.
Já Lady Gaga teve um encontro com o líder espiritual Dalai Lama, em 2016. Por sua campanha pela libertação do Tibet, o monge vive sob ataques do regime chinês. Esse encontro, inclusive, fez Gaga ser cortada da transmissão chinesa da cerimônia do Oscar 2019, em que cantou “Shallow” (do filme “Nasce Uma Estrela”), música que inclusive venceu o prêmio de Melhor Canção. cortada
Por fim, o governo chinês detesta o BTS por dois motivos. Um deles é político. Os cantores se negaram a exaltar o sacrifício das tropas chinesas ao relembrar a Guerra da Coréia, em que os chineses ajudaram os norte-coreanos a lutar contra as forças democráticas. O outro motivo é considerar o uso ostensivo de maquiagem pelos garotos um mau exemplo para os jovens do país.
Só que a censura teve um efeito colateral inesperado. Grande parte do público local preferiu prestigiar versões piratas de “Friends: The Reunion”, com a íntegra do programa. Versões sem cortes foram disponibilizadas na plataforma Bilibili, espécie de YouTube chinês, fazendo com que as empresas com direito à versão oficial – iQiyi, Tencent e Youku – protestassem nas redes sociais.
Ao reclamarem que a pirataria “prejudicava os interesses dos criadores e dos detentores dos direitos”, as empresas tiveram que ouvir vários usuários questionarem se a censura também não era desrespeitosa com o trabalho dos criadores.
Embora a pirataria já tenha sido mais disseminada na China, sua defesa como forma de rebelião contra a censura é novidade entre o público chinês, doutrinado a reagir de forma favorável às desculpas nacionalistas e patrióticas – como as listadas no começo do texto – que justificam uma guerra cultural pelos motivos mais obscuros.