O final anticlimático da desastrosa cerimônia do Oscar 2021 foi culpa exclusiva dos organizadores. Eles não mudaram apenas a ordem de premiação, encerrando a premiação com a entrega do troféu de Melhor Ator. Fizeram pior: proibiram Anthony Hopkins de participar por videoconferência.
A princípio, o cineasta Steven Soderbergh e os produtores Stacey Sher e Jesse Collins, encarregados do evento, exigiram a presença de todos os indicados em Los Angeles, para receber seus prêmios no palco improvisado na estação de trem Union Station. Mas isso se tornou impraticável para os indicados europeus, devido aos protocolos de proteção contra o coronavírus. Resignados, os organizadores decidiram criar palcos paralelos em Londres e Paris, para onde os indicados deveriam convergir.
Mas Hopkins estava no País de Gales e não na Inglaterra. O repórter Kyle Buchanan, do jornal The New York Times, apurou que o veterano ator se ofereceu para aparecer na cerimônia por meio de um aplicativo como o Zoom, mas Soderbergh e os outros produtores barraram a ideia. Ele chegaram a declarar que o Oscar seria a primeira festa da indústria do entretenimento a acontecer sem uso de videoconferência. Na prática, porém, as participações em Londres e Paris pareceram videoconferências.
Diante da recusa dos produtores, Hopkins abriu mão de participar do evento. Ele tinha demorado meses para conseguir autorização para viajar da Inglaterra ao País de Gales, onde nasceu e onde possui uma propriedade rural distante e segura. Talvez pensasse que não valeria a pena enfrentar riscos para sua saúde ou novas dificuldades de translado apenas para assistir à vitória de Chadwick Boseman.
Afinal, a mudança de ordem, que deixou o Oscar de Melhor Ator para o fim da cerimônia, apontava para uma homenagem ao ator de “A Voz Suprema do Blues”, falecido no ano passado.
Assim sendo, ele nem se deu ao trabalho de assistir ao evento. Estava dormindo quando sua vitória, pelo desempenho fantástico em “Meu Pai”, foi anunciada na Union Station, marcando um raro final de Oscar sem discursos.
Dormindo, Hopkins fez História. Aos 83 anos, ele se tornou o ator mais velho a vencer um Oscar – superando Christopher Plummer, que realizou a façanha aos 82 anos, quando recebeu a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por “Toda Forma de Amor”, em 2012.
Ao acordar na manhã seguinte, ele compartilhou seu agradecimento num vídeo postado nas redes sociais, em que homenageou Boseman e confessou que não esperava a vitória. Um agradecimento que poderia ter acontecido ao vivo, não fosse o preciosismo dos produtores do Oscar 2021.