O ator Elliot Page, antigamente conhecido como Ellen Page, deu sua primeira entrevista após revelar-se transgênero, tornando-se o segundo transexual (após Laverne Cox em 2014) a aparecer na capa da revista Time. O artigo trouxe algumas revelações, como o fato de que ele passou por uma cirurgia nos últimos meses para retirar seus seios.
Na entrevista, Elliot enfatizou que ser trans não significa ter que fazer uma operação. Mas ele tinha condições financeiras e a cirurgia permitiu que finalmente pudesse se reconhecer diante do espelho. “Isso transformou completamente a minha vida”.
Por ser branco e bem-sucedido, Elliot diz que quer usar seu privilégio para ajudar outras pessoas trans. “Meu privilégio me permitiu ter recursos para passar e estar onde estou hoje, e é claro que quero usar esse privilégio para ajudar da maneira que puder.”
“Eu simplesmente nunca me reconheci. Por muito tempo eu não conseguia nem olhar uma foto minha”, acrescentou, explicando que também tem dificuldade em assistir a seus filmes antigos, especialmente aqueles em que desempenha papéis mais femininos.
Isto é um problema porque Page ainda é muito lembrado pelo papel de uma adolescente grávida em “Juno”, filme que lhe rendeu indicações ao BAFTA e ao Globo de Ouro. Mas ele afirma que já naquela época, aos 21 anos, tinha dificuldades em parecer feminina.
“Como explicar às pessoas que, embora [eu fosse] um ator, colocar uma camiseta com corte feminino me deixaria tão mal?”.
Em 2014, Page se assumiu como homossexual. Em um discurso emocionado em uma conferência da Campanha de Direitos Humanos, ele questionou a indústria do entretenimento “que impõe padrões esmagadores” aos atores e também aos espectadores. “Existem estereótipos generalizados sobre masculinidade e feminilidade que definem como todos devemos agir, nos vestir e falar. E eles não servem a ninguém”, discursou na época.
A partir disso, sentiu-se mais livre e passou a usar ternos no tapete vermelho. Também se casou com a coreógrafa Emma Portner em 2018 e produziu seus próprios filmes com atores LGBTQ+ como “Freeheld” e “My Days of Mercy”.
“A diferença em como eu me sentia antes de assumir que era gay para depois foi enorme”, frisou Page. “Mas o desconforto com meu corpo alguma vez foi embora? Não não não não.”
Ele contou que a percepção da transexualidade aconteceu durante o isolamento forçado pela pandemia. Ele e a esposa se separaram no verão passado e se divorciaram no início de 2021, fazendo Eliott refletir. “Tive muito tempo sozinho para realmente focar nas coisas que penso, de muitas maneiras, que inconscientemente estava evitando”, diz. “Finalmente pude me tornar quem eu sou”
Page diz que foi inspirado por ícones trans pioneiros como Janet Mock e Laverne Cox. E os escritores trans o ajudaram a entender seus sentimentos. Ele se viu refletido nas memórias de P. Carl, em “Becoming a Man: The Story of a Transition”. Por fim, “vergonha e desconforto” deram lugar à revelação.
“Eu finalmente fui capaz de aceitar ser transgênero”, comemorou Page, “e me permitir tornar-me totalmente quem eu sou”.
Isso levou a uma série de decisões, como mudar seu nome para Elliot, usar o pronome ele para se identificar, criar novas contas nas redes sociais e retirar os seios.
Sobre o nome Elliot, ele revelou que sempre foi grande fã de “E.T. – O Extraterrestre”, de Steven Spielberg, e até tem as palavras “E.T. PHONE HOME” tatuadas, por isso decidiu adotar o nome do protagonista do filme, vivido por Henry Thomas no clássico. “Eu amava ‘E.T.’ quando era criança, e sempre quis me parecer com os garotos do filme.”
Agora de volta às gravações de “The Umbrella” como Elliot, Page revela que os colegas de trabalho ainda usam os pronomes errados, acidentalmente. “Vai ser um ajuste”.
Ele espera que a mudança não afete sua carreira e se mostra entusiasmado em desempenhar novos papéis. “Estou muito animado para atuar, agora que sou totalmente quem sou, neste corpo”, diz Page. “Não importam os desafios e momentos difíceis, nada equivale a sentir como me sinto agora.”