Depois que Christopher Nolan desabafou publicamente contra a decisão da Warner de lançar todos os seus filmes de 2021 simultaneamente nos cinemas norte-americanos e na HBO Max, plataforma de streaming administrada pela empresa, a imprensa americana apurou que o clima está péssimo entre o estúdio e quem faz parte dos filmes listados. A Warner teria irritado cineastas e estrelas ao privilegiar seu negócio online.
O site Deadline apurou que a produtora Legendary, parceira da Warner em “Godzilla vs. Kong” e “Duna”, pode entrar com uma ação judicial contra os executivos do conglomerado sobre o destino de suas obras. A empresa já tinha disparado uma notificação anterior, quando a Netflix ofereceu até de US$ 250 milhões pelos direitos de “Godzilla vs. Kong”. Embora a Legendary tenha financiado 75% do filme, a Warner tinha o poder de bloquear a venda e o fez. A Legendary perguntou se o estúdio faria um acordo para transmitir o filme na HBO Max e não obteve uma resposta clara até que seus executivos descobriram que o filme estava indo à plataforma sem o benefício de uma negociação.
O que está em jogo são compensações financeiras aos produtores e talentos envolvidos em nada menos que 17 filmes que a Warner pretende lançar simultaneamente em streaming.
Segundo o Hollywood Reporter, a empresa já teve que gastar dezenas de milhões para acomodar Gal Godot e outros envolvidos em “Mulher Maravilha 1984”, filme que vai inaugurar o projeto de lançamento híbrido, porque a empresa quer produzir mais uma continuação. Mas não estaria disposta a fazer o mesmo com todas as produções.
Ainda de acordo com o THR, os diretores de “Duna” e “O Esquadrão Suicida”, respectivamente Denis Villeneuve e James Gunn, estariam muito insatisfeitos ao perceber que suas franquias podem ficar sem novos filmes. Villeneuve só teria topado fazer “Duna” porque Warner e Legendary aceitaram dividir o livro de Frank Herbert em duas produções. Seu longa é apenas a primeira parte da obra.
Mas o mais irritado seria Jon M. Chu, que anteriormente tinha recusado ofertas da Netflix por defender que filmes devem ser vistos no cinema. Ele e o compositor Lin-Manuel Miranda dispensaram ofertas de streaming para colocar o musical “Em um Bairro de Nova York” nos cinemas. Ele teria dito a um associado que ficou “chocado” após ser informado da decisão da Warner.
Por enquanto, porém, o único que deu vazão pública a essa insatisfação foi mesmo Christopher Nolan. Ele não está envolvido nesse negócio, já que seu novo longa, “Tenet”, teve um lançamento comercial nos cinemas durante a pandemia, com resultados considerados preocupantes para o mercado. Mesmo assim, ele incorporou a insatisfação dos colegas, ao apontar que “não é assim que você trata os cineastas, estrelas e pessoas que trabalharam muito nesses projetos. Eles mereciam ser consultados sobre o que vai acontecer com seu trabalho.”
“Alguns dos maiores cineastas e estrelas de cinema de nossa indústria foram para a cama na noite anterior pensando que estavam trabalhando para o maior estúdio de cinema e acordaram para descobrir que trabalhavam para o pior serviço de streaming”, também disse o cineasta, cuja relação com a Warner vem desde “Insônia”, de 2002.