O novo filme de ação de Liam Neeson, “Legado Explosivo” (Honest Thief), liderou as bilheterias da América do Norte neste fim de semana, ao arrecadar US$ 3,7 milhões. O valor é US$ 100 mil maior que a estreia de “Guerra com o Vovô”, o “sucesso” da semana passada que se tornou o pior campeão de bilheteria norte-americano desde 1988.
Com os cinemas ainda fechados em Los Angeles, Nova York e São Francisco, e a pandemia de coronavírus ainda longe do fim, o desempenho dos lançamentos continua pífio nos EUA.
Não é à toa que os grandes estúdios estão desistindo de lançar seus blockbusters potenciais, passando seus principais títulos para 2021. De fato, já circulam rumores sobre nova leva de adiamentos, que cancelariam o vindouro Natal cinematográfico. Em entrevista nesta semana, a diretora Patty Jenkins afirmou ter dúvidas sobre a estreia de “Mulher-Maravilha 1984” em dezembro.
O desempenho de “Tenet”, que a Warner considerou ser capaz de trazer o público de volta aos cinemas, acabou tendo efeito inverso do esperado, conduzindo a um grande apagão de estreias.
Ironicamente, porém, a paranoia dos estúdios tem sido benéfica para o filme do diretor Christopher Nolan. Única produção orçada em mais de US$ 200 milhões em cartaz nos cinemas dos EUA, “Tenet” avança a conta-gotas, mas firme, graças à falta de concorrentes, e atingiu neste fim de semana a bilheteria doméstica de US$ 50,6 milhões. É muito pouco para seu custo de produção, mas ajudou o valor mundial da arrecadação a chegar a US$ 333 milhões.
O efeito conta-gotas pode até servir de estímulo para a retomada de estreias de produções de orçamento modesto. Um dos primeiros títulos a chegar aos cinemas norte-americanos durante a pandemia, “Fúria Incontrolável” (Unhinged), estrelado por Russell Crowe, atingiu US$ 20 milhões na América do Norte neste domingo (18/10), após 10 semanas em cartaz. Em todo o mundo, o filme está com US$ 39 milhões.
“Fúria Incontrolável” fez pouco menos que a superprodução “Os Novos Mutantes”, última herança da Fox distribuída pela Disney. A adaptação dos quadrinhos da Marvel rendeu US$ 22,7 milhões em sete semanas na América do Norte e US$ 43,7 milhões mundiais.
Os cinemas americanos ainda receberam duas estreias neste fim de semana, “Amor e Monstros” (Love and Monsters) e “The Kid Detective”, mas os estúdios se entusiasmaram menos que a crítica com seus lançamentos, colocando-os em poucas telas para apostar numa distribuição simultânea em PVOD (VOD com preço de ingresso de cinema).
Elogiadíssimos e com grande apelo comercial, os dois filmes tiveram que se contentar em fechar o Top 10, respectivamente com US$ 255 mil e US$ 135 mil, enquanto reprises de sucessos infantis dos anos 1990 (“Abracadabra” e “O Estranho Mundo de Jack”) ocuparam a maioria das salas disponíveis.
Esta comparação de desempenhos e estratégias acaba passando a pior mensagem possível sobre o setor, que enfrenta uma crise capaz de mudar hábitos de forma permanente.