Cinemas vazios nos EUA apontam que crise do setor está longe de passar

O desempenho das bilheterias de cinema nos EUA durante o fim de semana disparou alarmes por todo o mercado, deixando claro que o negócio cinematográfico corre risco de nunca mais se recuperar. […]

Unsplash/Karen Zhao

O desempenho das bilheterias de cinema nos EUA durante o fim de semana disparou alarmes por todo o mercado, deixando claro que o negócio cinematográfico corre risco de nunca mais se recuperar.

O novo filme de ação de Liam Neeson, “Legado Explosivo” (Honest Thief), manteve-se na liderança das bilheterias da América do Norte pelo segundo fim de semana seguido com uma arrecadação de US$ 2,35 milhões. Mas esta arrecadação, que nem sequer entraria no Top 10 antes da pandemia, foi a única a superar os US$ 2 milhões entre sexta e domingo (25/10) nos EUA e Canadá.

O Top 3 ainda inclui a comédia “Guerra com o Vovô”, estrelada por Robert DeNiro, com US$ 1,8 milhão, e o “blockbuster” da covid-19, “Tenet”, com US$ 1,3 milhão.

Diante destes números, o site Deadline publicou um texto atacando a decisão de políticos que mantém os cinemas de Los Angeles e Nova York fechados, além de criticar a Disney por lançar seus principais títulos em streaming (“Hamilton”, “Mulan” e “Soul”) e despejar apenas refugos no circuito cinematográfico.

A Disney distribuiu a única estreia de sexta (23/10), o terror “O Mensageiro do Último Dia” (The Empty Man), uma produção original de Fox, que chegou sem sessões para imprensa e pouco investimento em divulgação – apesar de incluir o queridinho da Netflix Joel Courtney (o Lee Flynn de “A Barraca do Beijo”) em seu elenco. Foi lançado em 2 mil telas, mas rendeu apenas US$ 1,2 milhão, ocupando o 4ª lugar com salas vazias. As poucas críticas publicadas afirmam que se trata realmente de um horror.

Entretanto, a performance negativa de “O Mensageiro do Último Dia” não é exceção. Todas as salas de cinema dos EUA estão vazias e a reabertura de Los Angeles e Nova York não mudaria este quadro. Para completar, os sinais são ainda mais desanimadores em relação ao futuro, após a nova onda de coronavírus que varre a Europa.

O fato incontornável é que o público está com medo dos cinemas. Os donos das redes não abrem mão de vender refrigerante e pipoca, e com isso o uso “obrigatório” de máscaras de proteção virou falácia nas salas de exibição. Devido a esses sinais contraditórios, os cinemas continuam a ser vistos como inseguros. E os estúdios não pretendem fazer grandes lançamentos enquanto essa visão não for alterada.

O negócio cinematográfico mudou, e enquanto alguns buscam alternativas, como a rede AMC, que fechou um acordo com a Universal para diminuir a janela de exibição de filmes em troca de participação nos lucros de streaming, outros preferem simplesmente fechar as portas a negociar ou repensar seu modelo, como a Regal/Cineworld, acreditando que isso servirá de pressão para sensibilizar os estúdios ou os governos.

Mas os cinemas voltaram a fechar na Europa. E John Stankey, CEO da AT&T, empresa dona da WarnerMedia, acaba de vocalizar que o lançamento de “Tenet” durante a pandemia foi um erro. Ou, em suas palavras: “Não posso dizer que saímos da experiência de ‘Tenet’ dizendo que foi um gol”.

Ao mesmo tempo em que a Disney anuncia que seu negócio de streaming superou as expectativas, atingindo em meses o alcance previsto para cinco anos, a Sony se adianta aos demais estúdios para adiar um filme esperado para março (“Caça-Fantasmas: Mais Além”), passando-o para julho de 2021.

Em outras palavras, são cada vez menores as chances de “Mulher-Maravilha 1984” ser visto nos cinemas em dezembro. Assim como as chances de os cinemas superarem sua maior crise sem uma grande mudança no setor.