O diretor sérvio Goran Paskaljević, que realizou 18 filmes, incluindo os premiados “Tango Argentino” e “Barril de Pólvora”, morreu na sexta-feira (25/9) em Paris, de câncer de pulmão, aos 73 anos.
A doença não o impediu de terminar seu último filme, “Nonostante la Nebbia”, que foi rodado na Itália no ano passado.
Nascido em Belgrado em 22 de abril de 1947, Paskaljević estudou cinema na Tchecoslováquia na ilustre escola FAMU durante a primavera de Praga. Lá, ele fez seus primeiros curtas-metragens, enfrentando a censura comunista por seus temas de compaixão pelos desprezados pelo sistema.
Após a invasão soviética em Praga, em 1968, ele teve a carreira interrompida e retornou à então Iugoslávia, só lançando seu primeiro longa oito anos depois, o drama “Beach Guard in Winter” (1976), que competiu em Berlim e lhe renceu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cinema de Pula. A obra foi co-escrita por Gordan Mihić, que se tornou seu parceiro de roteiro de longa data.
Os filmes de Paskaljević geralmente traçavam a vida de pessoas comuns em circunstâncias dramáticas e se tornaram sucessos no circuito dos festivais internacionais. Quatro de seus filmes tiverem première em Cannes: “Special Treatment” (1980), “Guardian Angel” (1987), “Time of Miracles” (1989) e seu único filme ambientado nos EUA, “Someone Else’s America” (1995). E “Tango Argentina” (1992) ganhou o prêmio do público em Veneza.
Com o tempo, o humor gentil de seus primeiros trabalhos deu lugar à ironia e tragédia sombrias, mas sempre de forma a defender os oprimidos, fossem crianças, deficientes, judeus, ciganos ou imigrantes. Embora ele sempre tenha se negado a se definir como um cineasta político, ele também admitiu que “não se pode evitar a política”, e repetidamente seus trabalhos e entrevistas irritaram os nacionalistas da antiga Iugoslávia.
Com o desmembramento do país e a onda crescente de nacionalismo na Sérvia, Paskaljević e sua esposa, Christine Gentet-Paskaljević, mudaram-se para Paris em 1992 e ele tornou-se um cidadão francês.
Ele só voltou para casa em 1998 para filmar o memorável “Barril de Pólvora”, que capturou a violência nas ruas de Belgrado e venceu o prêmio da crítica em Veneza e no European Film Awards.
Seus filmes posteriores, muitos dos quais ele mesmo escreveu, dirigiu e produziu, mantiveram o padrão elevado, com destaque para a produção irlandesa “How Harry Became a Tree” (2001) e o alegórico “Midwinter Night’s Dream” (2004), que criticou corajosamente o papel da Sérvia na guerra dos Balcãs.
Entre seus filmes finais estão “When Day Breaks” (2012), em que um professor judeu aprende sobre seu passado, e “Land of the Gods” (2016), ambientado na Índia. Assim como o derradeiro longa, “Nonostante la Nebbia”, todos tiveram première no Festival de Valladolid, na Espanha.