A atriz Zoë Saldaña (“Guardiões da Galáxia”) se disse arrependida por interpretar Nina Simone na cinebiografia “Nina”, lançada em 2016. Na época da produção, a escalação de Saldaña rendeu polêmica entre ativistas negros, porque a atriz tem pele mais clara e traços latinos, que não condiziam com a negritude da cantora.
“Eu nunca deveria ter interpretado Nina. Eu deveria ter feito tudo que podia, na época – porque eu tenho um tipo de poder, embora não seja o mesmo [das pessoas brancas] – para pressionar pela escalação de uma mulher negra para interpretar Nina, que era uma mulher negra excepcionalmente perfeita”, disse a atriz numa live no Instagram, durante conversa com Steven Canals, criador da série “Pose”, cujo tema era justamente afro-latinidade e “colorismo” (discriminação baseada em tons de pele negra).
Filha de pai dominicano com raízes haitianas e de mãe porto-riquenha, Saldaña precisou usar maquiagem para escurecer sua pele, além de usar próteses dentárias e próteses para alargar o nariz, de modo a assumir feições afro-americanas.
Ela foi bastante criticada por essa “black face”, mesmo sendo negra. Os herdeiros da cantora reforçaram que Zoë “não era negra o suficiente” para o papel e India Arie, que viveu a cantora na série “American Dreams” (em 2003) defendeu que Nina Simone fosse interpretada por Viola Davis, que havia acabado de vencer o Oscar por “Histórias Cruzadas” (2011). Em uma entrevista ao The Hollywood Reporter, India Arie lembrou que a pele escura foi determinante para Nina Simone, não apenas por sua participação destacada nos movimentos civis. “Ela teria tido uma carreira diferente se fosse mais parecida com Lena Horne ou Dorothy Dandridge. Ela poderia ter sido a primeira pianista negra famosa em todo o mundo”, disse.
No auge da polêmica, Lisa Simone Kelly, a filha de Nina Simone, veio a público defender Zoë Saldaña, declarando que o problema não estava na atriz, mas nos responsáveis pelo filme, especialmente a diretora e roteirista Cynthia Mort (roteirista do thriller “Valente”), que teria inventado quase toda a história e não recebido aprovação para as filmagens. “Ela [Zoë] claramente trouxe o melhor de si para o projeto e, infelizmente, está sendo atacada por algo que não é sua culpa, pois não é responsável pelas mentiras do roteiro”.
A produção também foi acusada de privilegiar o período de decadência da cantora, quando ela enfrentava internações hospitalares por seu alcoolismo e o desinteresse do mercado.
No Facebook, a conta de Nina Simone chegou a sugerir um boicote ao longa-metragem, pedindo aos fãs para fazerem suas próprias homenagens, ficando em casa no dia da estreia nos cinemas.
Hoje, Zoë Saldaña concorda com todas as críticas.
“Na época, eu achei que tinha permissão para interpretá-la, porque sou uma mulher negra. E sou mesmo. Mas estamos falando de Nina, e ela teve uma jornada que deveria ser honrada de forma específica… ela merecia melhor, e eu sinto muito, porque amo a música dela”, acrescentou a atriz.
Ela finalizou o assunto fazendo um apelo para Hollywood contar novamente a história da cantora, desta vez com uma atriz afro-americana e apresentando sua importância de forma correta.