“Amanhã será um novo dia”, dizia Scarlett O’Hara… e este dia chegou. A plataforma de streaming HBO Max resolveu retirar de seu catálogo o clássico “…E o Vento Levou”, devido a seu conteúdo racista.
O longa-metragem de 1939 sobre a Guerra Civil americana (quando o Sul dos EUA se recusou a aceitar a abolição da escravatura e entrou em guerra com o Norte) venceu oito estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Filme, e se mantém entre as maiores bilheterias de todos os tempos (quando os valores são ajustados pela inflação), mas sua representação negativa dos negros escravizados e retrato positivo de escravagistas heroicos não envelheceu bem, sendo alvo de muitas críticas.
Diante das manifestações contra o racismo e a brutalidade policial que tomaram conta dos EUA após o assassinato de George Floyd, trazendo a discussão da representação negra para o centro dos debates, vários canais de TV começaram a revisar o conteúdo de suas programações, levando, por exemplo, ao cancelamento do reality policial “Cops” na Paramount Network.
Após manifestantes ingleses derrubarem a estátua de um traficante de escravos em Bristol, jogando-a no rio que corta a cidade, o legado cultural histórico de opressão também passou a ser questionado. E isso acabou incluindo “…E o Vento Levou”.
O premiado roteirista John Ridley, vencedor do Oscar por “12 Anos de Escravidão” (2013), lançou luz sobre o velho filme da Warner num artigo no jornal Los Angeles Times, publicado na terça-feira (9/6). Segundo ele, “…E o Vento Levou” deveria ser retirado do streaming porque “não só fica aquém da representação da escravidão como ignora seus horrores e perpetua alguns dos estereótipos mais dolorosos sobre as pessoas de cor”.
Ele acrescentou: “É um filme que, como parte da narrativa da ‘Causa Perdida’ [a defesa da escravidão], romantiza a Confederação de uma maneira que continua a legitimar a noção de que o movimento secessionista era algo mais nobre do que realmente foi – uma insurreição sangrenta para manter o ‘direito’ de possuir, vender e comprar seres humanos”.
A WarnerMedia, dona da HBO Max, concordou.
“‘E o Vento Levou’ é um produto de seu tempo e contém alguns dos preconceitos étnicos e raciais que, infelizmente, têm sido comuns na sociedade americana”, afirmou um porta-voz da HBO Max em comunicado à imprensa.
“Estas representações racistas estavam erradas na época e estão erradas hoje, e sentimos que manter este título disponível sem uma explicação e uma denúncia dessas representações seria irresponsável”, completou.
Porém, o filme voltará a ser disponibilizado novamente em uma data futura, junto com uma discussão de seu contexto histórico, informou a empresa.
“Sentimos que manter esse título sem uma explicação e uma denúncia dessas representações seria irresponsável. Essas representações certamente são contrárias aos valores da WarnerMedia; portanto, quando retornarmos o filme à HBO Max, ele retornará com uma discussão de seu contexto histórico e uma denúncia dessas mesmas representações.
Nenhum corte será feito no longa-metragem, “porque fazer isto seria como dizer que estes preconceitos nunca existiram”, acrescenta o comunicado.
“Se vamos criar um futuro mais justo, equitativo e inclusivo, nós devemos primeiro reconhecer e entender nossa história”, afirmou a HBO Max.