Chefe da Universal diz que o público vê mais filmes em casa que no cinema

Envolvido numa polêmica com as grandes redes de exibição após lançar “Trolls 2” diretamente para locação digital nos EUA, Jeff Shell, o CEO da NBCUniversal, parabenizou nesta quinta (30/4) a iniciativa dos […]

Envolvido numa polêmica com as grandes redes de exibição após lançar “Trolls 2” diretamente para locação digital nos EUA, Jeff Shell, o CEO da NBCUniversal, parabenizou nesta quinta (30/4) a iniciativa dos responsáveis pela disponibilização do desenho animado, que rendeu mais de US$ 100 milhões em VOD, e ainda disse que o público vê mais filmes em casa que nas salas do circuito cinematográfico.

O comentário de Shell aconteceu durante uma videoconferência com acionistas do estúdio e membros da imprensa. Após salientar que “a distribuição tradicional nos cinemas sem dúvidas voltará a ser a peça central das nossas operações” após a pandemia, Shell concluiu que a disponibilização digital de filmes, seja em plataformas de assinatura, como a Netflix, ou por locação via serviços on demand (VOD), também precisa ser considerada importante.

O executivo comentou de forma entusiasmada os resultados obtidos com o lançamento de “Trolls 2” em VOD, que foi o estopim para o conflito entre o estúdio e os exibidores.

“Os números que conseguimos foram muito interessantes. O filme estava pronto, e a gente investiu muito dinheiro nele. Além disso, o público estava precisando de uma opção infantil em casa”, argumentou.

“Trolls 2” testou o mercado como a primeira sequência de blockbuster lançada direto em streaming – oficialmente, de forma simultânea em VOD e nos cinemas (fechados) – e também o preço que o público estaria disposto a pagar por um produto premium digital. O valor de US$ 19,99 por locação é US$ 10 mais caro que o custo médio de um ingresso de cinema nos EUA.

Mas a aposta deu certo. Mais que certo. Disponível há apenas três semanas, a versão digital da continuação rendeu US$ 100 milhões, quase o mesmo que o lançamento cinematográfico do primeiro filme, que durante igual período de exibição, em 2016, gerou US$ 116 milhões nas bilheterias.

O detalhe é que os serviços de streaming dão maior retorno financeiro, já que ficam com uma parcela menor da arrecadação. Ao todo, a Universal faturou US$ 77 milhões, deixando apenas 23% do faturamento total com as plataformas. Já as salas de exibição ficam com 50% dos rendimentos.

Considerando que a bilheteria norte-americana do primeiro “Trolls” ficou em torno dos US$ 153 milhões, após a divisão com os estabelecimentos o filme rendeu apenas US$ 76,5 milhões para o estúdio. Ou seja, menos do que a Universal já arrecadou com o VOD de “Trolls 2”.

O problema é que, ao comemorar esses números e sinalizar que o estúdio deve lançar mais filmes dessa forma, Shell despertou a ira do parque exibidor. Grandes redes de cinema, como AMC Theatres e Regal Cinemas, nos EUA, e Odeon, no Reino Unido, afirmaram que, quando reabrirem para o público, vão boicotar os filmes da Universal.

A avaliação do mercado, entretanto, sinaliza como pouco provável que as redes de cinema possam se dar ao luxo de deixar de exibir “Velozes e Furiosos 9”, “Minions: A Origem de Gru” e “Jurassic World 3”, especialmente a maior delas, a AMC, que foi bastante impactada pela pandemia por causa de sua grande carga de dívidas. Após o fechamento de todas as salas da AMC na segunda metade de março, os analistas de Wall Street previram que o circuito seria forçado a declarar falência.

“Eu acho que os consumidores voltarão aos cinemas quando puderem, mas o streaming será parte do esquema de distribuição, querendo ou não. Mesmo que seja como uma oferta complementar”, conclui Shell, em sua avaliação do futuro do negócio cinematográfico.