O apresentador Pedro Bial dobrou sua aposta no discurso machista contra Petra Costa, diretora do documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar 2020. Em artigo publicado no jornal O Globo deste domingo (9/2), ele disse que “experimentou um linchamento virtual” por ter criticada a diretora brasileira pelo filme, que tem 97% de aprovação no site Rotten Tomatoes, e voltou a repetir uma das frases machistas de seu ataque original.
A polêmica começou numa entrevista à Rádio Gaúcha nesta semana, em que Bial afirmou que “Democracia em Vertigem” é uma “ficção alucinada”, “vai contando as coisas num pé com bunda danado”, com “narração miada, insuportável, onde ela [Petra Costa] fica choramingando o filme inteiro”.
Acusado de machismo, inclusive por colegas, como a ex-repórter da Globo Cristina Serra, Bial ainda arrematou: “É um filme de uma menina dizendo para a mamãe dela que fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens e a inspiração de mamãe, somos da esquerda, somos bons, não fizemos nada, não temos que fazer autocrítica”.
O ataque gratuito e de tom machista, que desrespeita a carreira premiada da jovem cineasta, foi amplamente criticado nas redes sociais. Por conta disso, Bial resolveu se defender. Mas sem pedir desculpas, assumindo papel de vítima e reforçando o machismo de suas convicções.
“É com a carcaça moída e esfolada de tanta pancada virtual que venho a público acenar: bandeira branca. Amor. Eu peço paz”, escreveu, vitimista e parafraseador.
“Esta semana, experimentei, mais uma vez, o que é estar na parte linchada de um linchamento virtual. Eu, que vivo de acolher as opiniões das pessoas, caí na temeridade de dar a minha. Eu não peço desculpas, nem peço que me peçam desculpas”, continuou. “Apanho sem berrar, só não me venham com o machismo de tratar como menina indefesa uma mulher que sabe bem se defender”.
Importante lembrar que quem chamou a cineasta de menina foi o próprio Bial, não as pessoas que reclamaram desse menosprezo machista do apresentador. Além disso, como afirmou, ele não pediu desculpas.
Bial disse ainda não reclamar, reclamando, “da prática jornalística de tirar de contexto e contrastar, a fim de buscar a essência da notícia”. “Parece fácil, mas é um exercício difícil, onde se erra mais do que se acerta. Por exemplo, publica-se antes a frase editada “é uma menina sob as ordens de mamãe”, do que a integral ‘numa leitura psicanalítica mais profunda, é uma menina sob as ordens de mamãe'”, escreveu.
Ou seja, ele repetiu a crítica machista para defender-se, num jornal de grande circulação nacional, e ainda acrescentou justificativa pseudo-científica. Numa leitura psicanalista mais profunda, o caso não se encaixa como ato falho. Já se estabeleceu como padrão de comportamento.