Jussie Smollett volta a ser indiciado por suposta mentira sobre ataque racista e homofóbico

O ator americano Jussie Smollett, que interpretou Jamal Lyon na série “Empire”, voltou a ser indiciado por supostamente forjar um crime e mentir para a polícia. Em janeiro de 2019, ele alegou […]

O ator americano Jussie Smollett, que interpretou Jamal Lyon na série “Empire”, voltou a ser indiciado por supostamente forjar um crime e mentir para a polícia. Em janeiro de 2019, ele alegou ter sido vítima de um ataque racista e homofóbico de apoiadores do presidente americano Donald Trump, em Chicago.

O caso foi marcado por contradições de parte da polícia, que no curso da investigação transformou o registro de crime de preconceito em suspeita contra o próprio ator. Problemas em relação ao tratamento público da investigação fez a promotora do caso desistir do processo, o que nunca caiu bem entre as autoridades de Chicago.

Insatisfeito com a decisão da promotora Kim Foxx, o juiz do caso, Michael Toomin, resolveu nomear um novo promotor, Dan K. Webb, que retomou as investigações e, após a conclusão do levantamento de provas e testemunhos, indiciou Smollett em seis acusações relacionadas a relatos falsos à polícia, enquanto “sabia que ele não foi vítima de um crime”.

Smollett, por sua vez, já tinha decidido processar o município e autoridades de Chicago por considerar que o prefeito e o chefe de polícia da cidade “arruinaram” sua reputação. Ele foi demitido da série “Empire” após a polícia prendê-lo e declarar que ele forjou o ataque que alegou ter sofrido.

Em 29 de janeiro do ano passado, Smollett foi levado a um hospital com ferimentos leves, afirmando ter sido atacado por dois homens durante a madrugada nas ruas de Chicago. O ator, que é negro e gay, contou que eles gritavam ofensas racistas e homofóbicas.

A investigação da polícia, no entanto, chegou aos irmãos Ola e Avel Osundairo, personal trainers de descendência nigeriana que já haviam aparecido como figurantes em “Empire”. Eles testemunharam que o ator lhes pagou para que o atacassem, depois que a polícia os ameaçou de prisão e deportação para a Nigéria.

Na verdade, as autoridades policiais cometeram diversas irregularidades no caso.

Ao prender o ator, a polícia afirmou que o ataque foi “um golpe publicitário” para chamar atenção visando obter um aumento de salário. Mas a revista The Hollywood Reporter fez sua própria investigação sobre essas afirmações e descobriu que Smollett já tinha um dos maiores salários do elenco de “Empire”, acabara de receber aumento recente e não negociava com os produtores por mais dinheiro. Nem seus agentes nem a Fox sabiam que ele queria receber mais.

Antes desta hipótese ser apresentada, a investigação teria vazado que o objetivo do suposto falso ataque seria evitar que ele fosse dispensado da série. Só que os roteiristas de “Empire” e a rede Fox também rechaçaram essa teoria, alegando que nunca houve planos para dispensá-lo.

Em entrevista coletiva pouco antes da prisão do ator, o superintendente da polícia de Chicago, Eddie Johnson, apresentou um cheque assinado por Smollett para os irmãos como prova das acusações.

Entretanto, em depoimento à polícia, os irmãos supostamente contratados por Smollett disseram que o dinheiro que receberam do ator na verdade era pagamento pela prestação de serviços como personal trainers. Há fotos no Instagram desse trabalho.

Johnson também afirmou à imprensa que Smollett havia escrito uma carta de conteúdo ameaçador contra si mesmo, que chegou à produção de “Empire” alguns dias antes do ataque. Na realidade, segundo o TMZ, as investigações da polícia e do FBI não conseguiram determinar que o ator foi autor da carta.

Diante dessa avalanche de equívocos, trazidos à público pela própria polícia, a promotora Kim Foxx desistiu de processar o ator. Ela explicou que, se fosse a julgamento, Smollett teria no máximo que prestar serviço comunitário, mas como o ator já realiza trabalho voluntário em Chicago, a condenação seria redundante. No entanto, caso fosse inocentado, deixaria a polícia numa situação difícil.

Isto, porém, não impediu o Prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, e o chefe de polícia da cidade, Eddie Johnson, de continuar atacando o ator publicamente e insistindo na versão de ataque de mentira. Por isso, os advogados do ator alegam que a cidade deve uma indenização a ele.

“Apesar do descarte de todas as acusações contra o Sr. Smollett, a conduta da polícia de Chicago e as declarações falsas dos irmãos Osundairo fizeram com que ele fosse sujeitado ao ridículo em público e o prejudicaram muito”, diz o processo movido pelo ator. “O Sr. Smollett também sofreu, e continua sofrendo, substanciais perdas monetárias. Ele perdeu oportunidades de emprego e precisou pagar muito dinheiro a advogados que o defenderam durante o caso”, continua o texto.

O ator foi limado da 6ª e última temporada de “Empire”, que foi ao ar sem o seu personagem, e não aparece nas telas desde então.

O processo contra a cidade de Chicago ainda cita que Smollett sofre de “angústia e estresse agudos” por causa do caso. Ele também alega ser vítima de racismo duplo, de seus atacantes e da polícia. E sempre manteve a mesma história, declarando-se inocente das acusações.

Seu estresse e angústia agora tendem a aumentar. A justiça de Chicago decidiu ir para o “tudo ou nada”, com o objetivo de provar que Smollett mentiu e, no processo, desmoralizar a promotora original, que, como o ator, também é negra. Em sua declaração à imprensa, o novo promotor frisou que “ainda” não encontrou evidências de má conduta da equipe anterior de acusação.

A advogada do ator, Tina Glandian, também emitiu um comunicado, observando que está em litígio com o Departamento de Polícia de Chicago e levantou questões sobre se seria justo para Webb basear parcialmente sua investigação nas evidências desse departamento. Ela aproveitou a frase de Web para destacar o fato de que ele disse não ter encontrado evidências de irregularidades por parte dos promotores.

“A tentativa de processar novamente Smollett um ano depois, na véspera da eleição do procurador do estado de Cook, é claramente uma questão de política e não de justiça”, disse ela no comunicado.

A promotora original, Kim Foxx, está concorrendo à reeleição e enfrenta uma primária no próximo mês, na qual seus oponentes criticam a forma como lidou com o caso Smollett.

Apesar das “evidências robustas” que Webb afirma possuir, não será um caso fácil de provar.