Filme de terror LGBTQ+ vence Mostra de Tiradentes

A 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes premiou o filme de terror cearense “Canto dos Ossos”, da dupla Petrus de Bairros e Jorge Polo, como melhor longa-metragem da sua seção competitiva, a […]

A 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes premiou o filme de terror cearense “Canto dos Ossos”, da dupla Petrus de Bairros e Jorge Polo, como melhor longa-metragem da sua seção competitiva, a mostra Aurora, em cerimônia realizada na noite de sábado (1/2) na cidade mineira que lhe batiza.

O filme vencedor acompanha um grupo de jovens LGBTQ+ envolvidos com a presença de “vampiros” que sobrevivem através das gerações. Poderia ser um divertido trash. Mas, nas palavras do júri, parece algo bem mais intelectual, acadêmico e chato: o filme “aposta na imaginação como potência gestada coletivamente e acolhe seu caráter disjuntivo”. Como é que é?

Sério, a justificativa do júri para o prêmio ainda inclui uma aulinha básica sobre o que pode nos dizer um filme: “Um filme pode nos dizer coisas pela metade, pode errar ou exagerar e, no entanto, pode, à sua maneira, revelar epifanias que nos oferecem o intempestivo cristal de um segmento de tempo, de gesto, de susto privilegiado”. Academicismo ululante, que todo bom estudante de Humanas trata de esquecer quando sai da faculdade para lidar com o resto da humanidade.

A eleição de “Yãmiyhex: As Mulheres-Espírito”, de Sueli Maxacali e Isael Maxacali, como melhor longa da mostra paralela Olhos Livres, também inspirou o júri a adjetivar “a delirante efervescência da terra, a estética do estar, um manifesto de atravessamentos”, num jorro de crítica onanista do qual é preciso desviar para não ficar melecado.

A diretora Sueli Maxacali foi muito mais efetiva ao dizer simplesmente: “Esse filme é importante para mostrar nossa realidade a vocês”, referindo-se à temática indígena, mas também ao fato de o longa ter sido rodado por nativos brasileiros e mostrar a força das mulheres nas aldeias.

A mensagem precisa ser clara para ter potência.

Não é por acaso que Tiradentes é o mais universitário dos festivais brasileiros, o único que expõe tema anual, sem deixar a crítica pensar por si mesma. Mas tem seu valor, ao revelar novas gerações de cineastas independentes, ainda que prefira premiar temáticas à realizações.

Sobre isto, o júri também premiou o curta carioca “Egum”, de Yuri Costa, de temática racial.

Já os vencedores do voto popular foram obras dirigidas por mulheres e com personagens femininas fortes: o longa baiano “Até o Fim”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa e curta potiguar “A Parteira”, de Catarina Doolan.

Confira abaixo a lista completa de premiados.

Júri oficial
Melhor longa-metragem: “Canto dos Ossos”, de Petrus de Bairros e Jorge Polo
Melhor curta-metragem: “Egum”, de Yuri Costa

Júri popular
Melhor longa-metragem: “Até o Fim”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa
Melhor curta-metragem: “A Parteira”, de Catarina Doolan

Prêmios paralelos
Melhor longa-metragem da Mostra Olhos Livres: “Yãmiyhex: As Mulheres-Espírito”, de Sueli Maxacali e Isael Maxacali
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Perifericu”, de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira
Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Lílis Soares, diretora de fotografia do longa “Um Dia com Jerusa” e dos curtas “Ilhas de Calor” e “Minha História É Outra”.