O cinema está em fase de anti-heróis. Depois do “Coringa” faturar mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias e vencer o Oscar – de Melhor Ator para seu intérprete, Joaquin Phoenix – , sua ex-namorada chegou aos cinemas. A Arlequina, vivida por Margot Robbie, é a estrela de “Aves de Rapina”, atualmente em cartaz. Mas não fica nisso. Um novo filme do “Esquadrão Suicida” está atualmente em produção, com direção de James Gunn (de “Guardiões da Galáxia”) e contará novamente com a própria Arlequina.
A tendência tampouco se limita aos personagens da DC Comics. A Marvel está desenvolvendo uma série dedicada ao vilão Loki, que contará com seu intérprete nos cinemas, Tom Hiddleston. O personagem chegou a encontrar redenção e se mostrar heroico num arco iniciado em “Thor: Ragnarok” e encerrado em “Vingadores: Guerra Infinita”, transformando-se, senão em herói, num anti-herói – como a Arlequina em “Aves de Rapina”.
Mas, afinal, o que são anti-heróis? São personagens que habitam a área cinzenta entre o mocinho e o bandido dos filmes de antigamente. Há horas em que pratica o mal, mas também outras em que não hesita em fazer a coisa certa. E essas características paradoxais o aproximam mais das pessoas reais que os próprios heróis — ou qualquer outro personagem da ficção.
Outros exemplos de anti-heróis clássicos da Marvel são o Justiceiro, que teve sua própria série recente na Netflix, Magneto, grande inimigo/aliado dos X-Men, e o Agente Americano, que será introduzido em “Falcão e o Soldado Invernal” em agosto, na plataforma de streaming Disney+ (Disney Plus).
Geralmente, os anti-heróis começam como vilões, mas acabam conquistando a preferência do público por seu carisma, levando os roteiristas a explorarem sua empatia. Sem esta empatia, os personagens jamais deixariam de ser vilões comuns. E até o filme do “Coringa” conseguiu fazer com o que o público se identificasse com o sofrimento de seu protagonista, muito bem explorado por Joaquin Phoenix.
Há, ainda, heróis que são forçados a agir de forma vilanesca, como Bucky ao virar o personagem do subtítulo de “Capitão América: O Soldado Invernal”. A crença em sua inocência esteve no centro de “Capitão América: Guerra Civil” e rendeu o reconhecimento dos demais heróis da Marvel em “Vingadores: Guerra Infinita”, onde finalmente entrou no time dos mocinhos. Tanto que vai co-estrelar sua própria série com outro parceiro do Capitão, o Falcão.
Primeiro filme da Marvel em 2020, “Viúva Negra” também vai jogar luz na trajetória de vilã da personagem-título. Desde que foi introduzida em “Homem de Ferro 2”, com interpretação de Scarlett Johansson, a personagem sempre apareceu do lado dos Vingadores, mas seu passado foi muito diferente, já que ela era uma espião russa da KGB.
Até o divertido Deadpool foi introduzido como vilão em “X-Men Origens: Wolverine”, já na época interpretado por Ryan Reynolds. Quanta diferença. Em dois filmes solo de evolução constante, ele chegou até a criar sua própria “versão dos X-Men”, o grupo de, claro, anti-heróis X-Force.
Essa tradição tem inspiração no romantismo clássico, que criou o monstro incompreendido, personagem da literatura gótica que rendeu obras-primas como “Frankenstein” e “O Homem-Invisível” original.
Alguns monstros modernos da literatura, como Hannibal Lecter (de “O Silêncio dos Inocentes”) e Alex de Large (de “Laranja Mecânica”), também ganharam filmes e séries que buscaram humanizá-los, ao transformá-los em vítimas. Outros sequer parecem vilões, mas justiceiros como Travis Bickle, em “Taxi Driver”, uma das inspirações confessas do filme “Coringa”.
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