A Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR), no Rio de Janeiro, está sendo ameaçada de despejo pelo governo Bolsonaro. Responsável por ceder o imóvel há 20 anos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, estatal presidida pelo General Floriano Peixoto Vieira Neto, nomeado por Jair Bolsonaro, enviou uma notificação extrajudicial na sexta-feira (24/1) pedindo a sua devolução.
Desde julho de 2019, a diretoria da escola negociava a permanência no edifício que serve de sede para a escola, no Centro do Rio. Mas as tratativas tomaram um rumo inesperado.
Referência na formação e produção audiovisual, além da preservação de arquivos cinematográficos, a escola foi declarada Patrimônio Histórico Cultural Imaterial em 2018.
Nas últimas duas décadas, ela formou 20 mil alunos para a indústria do cinema e da televisão, entre roteiristas, diretores, produtores, montadores, editores e outras funções técnicas.
A instituição também mantém acervos de personalidades como o diretor Joaquim Pedro de Andrade e o ator José Wilker.
Em nota, a diretoria dos Correios afirmou que está avaliando “todo o seu patrimônio imobiliário” visando sua sustentabilidade financeira e também ressaltou que, desde 2000, cede o prédio sem contrapartidas.
Também por meio de comunicado, publicado em seu site, a escola lembra que o espaço estava abandonado e se encontrava em “estágio avançado de deterioração” quando teve o seu uso cedido. Desde então, a instituição teria feito inúmeros investimentos para restaurar e adequar o edifício às funções educacionais. Atualmente, a escola funciona em cinco pavimentos, onde foram construídas diversas ilhas de edição, além de um estúdio, uma biblioteca, uma filmoteca e uma sala para exibição de filmes.
“Sair de lá representaria um prejuízo sem tamanho”, disse ao jornal O Globo a produtora de cinema Renata Magalhães, presidente do Instituto Brasileiro de Audiovisual (IBAV), que gerencia a escola. “A ECDR é um instituto sem fins lucrativos, que faz trabalho social e oferece cursos a preços acessíveis, muitos deles subsidiados”, acrescentou.
De acordo com ela, a antiga direção dos Correios chegou a planejar a doação da totalidade do prédio à ECDR durante o governo Temer.
O governo Bolsonaro, porém, tem postura diferente e bem conhecida, de desmonte cultural. O presidente mandou cortar todos os patrocínios de estatais para a Cultura, situação que pode enquadrar a ECDR. Além disso, há planos de privatização para os Correios, que podem incluir o prédio da escola como ativo.
“Pedir a devolução do imóvel é uma decisão burra do atual presidente dos Correios porque o espaço tem mais valor como uma escola funcionando do que vazio”, avalia Magalhães. “O órgão precisa entender a importância de uma instituição que abriga pessoas do Brasil inteiro”.
Também em depoimento para O Globo, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto destacou que o mercado do audiovisual brasileiro “melhorou muito” com a criação da escola.
“Ela é diferente de outros cursos universitários porque forma uma mão de obra de técnicos fundamentais para a indústria”, apontou o produtor, fundador da L.C. Barreto Produções. “Nossa produtora sempre contrata muitos profissionais saídos de lá”.
Barreto espera que a ameaça de despejo seja uma questão técnica mais do que política. Mas o fato é que a ação de desmonte cultural – e, no caso, também educacional – do governo continua sua escalada destruidora com essa decisão.