Promotora que acusou inocentes de estupro pode perder emprego após série da Netflix

A estreia da série “Olhos que Condenam” (When They See Us) na última sexta-feira (31/5) está dando o que falar nos Estados Unidos. A produção da Netflix, dirigida por Ava DuVernay (“Selma”), […]

A estreia da série “Olhos que Condenam” (When They See Us) na última sexta-feira (31/5) está dando o que falar nos Estados Unidos. A produção da Netflix, dirigida por Ava DuVernay (“Selma”), aborda a prisão injusta de cinco adolescentes negros que foram condenados por estupro de uma mulher branca no Central Park, em 1989. Eles passaram anos presos e só foram inocentados porque o verdadeiro culpado confessou o crime.

Por conta do impacto da série, a opinião pública vêm pressionando pela demissão da “vilã” da história, a ex-promotora Linda Fairstein (interpretada na série pela atriz Felicity Huffman), que foi implacável em apontar a culpa dos cinco adolescentes. Até hoje, ela se nega a assumir os erros na investigação que levaram os jovens a serem condenados.

De acordo com uma reportagem do site TMZ, Fairstein está sendo pressionada a pedir demissão da organização sem fins lucrativos “Safe Horizon”, na qual ela trabalha há mais de 20 anos ajudando vítimas de abusos e crimes violentos.

Além de ser alvo da hashtag #CancelLindaFairstein no Twitter, sua presença na entidade também estaria indignando colegas e funcionários, após o caso voltar à mídia. O CEO da ONG disse que vai avaliar o caso, mas o TMZ apurou que o conselho planeja demiti-la de qualquer jeito.

A série é impiedosa ao retratá-la, da mesma forma como ela foi impiedosa com os jovens que condenou na vida real.

Na época do crime, Linda era chefe da unidade de crimes sexuais de Manhattan e não teria agido corretamente ao investigar quem era o real culpado pelo estupro da mulher no Central Park, coagindo os cinco menores inocentes até que eles confessassem qualquer coisa.

De acordo com o TMZ, Raymond Santana, um dos jovens condenados injustamente, disse que a ex-promotora finalmente está conseguindo o que merece. “Mesmo que seja 30 anos depois”, disse.

Causando comoção nos Estados Unidos, “Olhos que Condenam” detalhou como a polícia e a promotoria de Nova York obrigaram os menores de idade Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymon Santana, Antron McCray e Korey Wise a confessarem o crime, levando-os a serem condenados, embora exames de DNA, roupas e outras provas físicas indicassem sua inocência.

Eles ficaram presos entre 5 a 12 anos em reformatórios (um deles, que já tinha 16 anos na época, foi enviado para um presídio de adultos) até que o verdadeiro culpado confessou. Testes posteriores de DNA confirmaram que o autor do crime era mesmo Matías Reyes, que já cumpria prisão perpétua desde 1989 por outros crimes, inclusive estupros.

Quase 30 anos depois do crime, o atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, concordou em pagar uma indenização de R$ 40 milhões aos rapazes. O processo movido pelos cinco acusava a polícia, os promotores e outras autoridades de racismo. Mesmo assim, o prefeito anterior, Michael Bloomberg, recusava-se a pagar qualquer indenização.

Após as acusações, a vida dos cinco jovens e de suas famílias foram destruídas. E tem um detalhe: quem mais atacou publicamente os garotos foi o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que publicou em 1989 um anúncio de página inteira no jornal The New York Times pedindo a volta da pena de morte no estado para punir os garotos.

Na época, Trump era apenas um empresário arrogante. Mas, caso fosse bem-sucedido em sua campanha, teria o sangue de cinco inocentes em suas mãos. Isto, claro, não lhe serviu de lição alguma, nem ao público. O mesmo tom sanguinário tem mantido Trump popular nos Estados Unidos, ao encomendar campanhas publicitárias que retratam imigrantes latinos como ladrões, assassinos e estupradores, para justificar dar-lhes o pior tratamento possível nos serviços de imigração – como separar crianças dos pais.

O detalhe não passa despercebido pela série. Embora a história de “Olhos que Condenam” se passe nos anos 1980, a diretora Ava Duvernay deixa claro que a eleição de Trump prova que muitas coisas permanecem iguais nos Estados Unidos.