“Lembro Mais dos Corvos” é um documentário em forma de monólogo, estimulado por perguntas, realizado da forma mais simples possível. Uma conversa filmada no apartamento de uma pessoa trans. No caso, a atriz e diretora Júlia Katharine. Ela vai falando de si, dirigida por Gustavo Vinagre, num roteiro construído pelos dois. Conta as suas experiências, suas histórias, e como ela preenche suas noites de insônia. O que resulta daí é um retrato corajoso da vida difícil dos transexuais, dos transgêneros, a partir de uma situação particular. Que deve ter muito a ver com a de grande parte de seus pares.
O filme é uma oportunidade de penetrar no mundo íntimo de alguém que se apresenta ao espectador com uma experiência de vida bem diferente da habitual, da esperada. Sem medo de parecer ridícula, superficial ou esquisita. Ou melhor, driblando esse medo de modo muito competente, Júlia se expõe e conquista o respeito dos que a assistem.
Na mesma sessão que exibe “Lembro Mais dos Corvos”, de 82 minutos de duração, é exibido o curta de 25 minutos “Tea for Two”. Realizado por Júlia Katharine, com Gilda Nomacce, a própria Júlia e Amanda Lyra. Uma ficção concebida e dirigida por uma pessoa trans não deixa de ser uma boa novidade no cinema brasileiro. Merece ser conferida.