André Previn (1929 – 2019)

Morreu o compositor, maestro e pianista André Previn, quatro vezes vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora, e ex-marido da atriz Mia Farrow. Ele tinha 89 anos e faleceu em sua casa […]

Morreu o compositor, maestro e pianista André Previn, quatro vezes vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora, e ex-marido da atriz Mia Farrow. Ele tinha 89 anos e faleceu em sua casa em Manhattan, Nova York, de causa não revelada.

Nascido em Berlim como Andreas Ludwig Priwin, o futuro músico fugiu da Alemanha durante a ascensão do nazismo, viajando ainda criança com sua família para os Estados Unidos. Eles se estabeleceram em Los Angeles, onde um parente já vinha fazendo sucesso profissional: o compositor Charles Previn, vencedor do Oscar pela trilha sonora do musical “100 Homens e uma Menina” (1937).

A família inteira mudou o nome para Previn, que soava menos judeu. Mas como o pai não falava inglês, o único emprego que o ex-juiz alemão conseguiu foi como professor de piano. E isso empurrou o jovem Andreas, agora André, muito cedo para o mercado de trabalho, pois as contas da família não fechavam. A conexão com o tio famoso lhe deu uma chance em Hollywood, que acabou se transformando em carreira.

O jovem arranjou um “bico” nos estúdios MGM em 1946, enquanto ainda cursava a Beverly Hills High School. Seu primeiro trabalho no estúdio foi como supervisor musical do noir “Correntes Ocultas” (1946), de Vincent Minelli. Tinha só 16 anos, o que o fez ser bastante explorado, enquanto construía uma fama de prodígio. Já no filme seguinte, foi promovido a compositor de músicas adicionais e pianista, sem créditos.

Ao ser destacado para os musicais do estúdio, chegou a trabalhar em dois longas de Frank Sinatra antes de atingir a maioridade, como “compositor anônimo” das músicas adicionais de “Aconteceu Assim” (1947) e “Beijou-me um Bandido” (1948).

Sua carreira progrediu rapidamente. Em um ano, escalou várias posições até assumir a trilha de seu primeiro filme. Foi promovido a maestro em “Ato de Violência” (1949), de Fred Zinnemann, passou a ser creditado como diretor musical em “Mercado Humano” (1949), de Anthony Mann, e virou compositor com “Sol da Manhã” (1949), de Richard Thorpe.

Um ano depois, foi indicado ao primeiro Oscar, pela trilha de “Três Palavrinhas” (1950), também de Richard Thorpe. Comemorou a façanha aos 20 anos de idade.

Ao todo, Previn concorreu 11 vezes ao Oscar, vencendo quatro, pelos musicais “Gigi” (1958), “Porgy e Bess” (1959), “Irma La Douce” (1963) e “Minha Bela Dama” (1964).

No auge da carreira, ele surpreendeu a todos ao anunciar que iria dar um tempo nas composições de cinema para se dedicar à carreira musical. Tinha pouco mais de 30 anos e já pensava em se aposentar de Hollywood. E embora não tivesse abandonado prontamente as produções cinematográficas, ele não voltou atrás em sua decisão de se afastar das telas.

A pausa original durou da comédia “Uma Loura Por um Milhão” (1966), de Billy Wilder, até “Delírio de Amor” (1971), de Ken Russell. E só foi uma pausa porque ele abriu uma exceção para o filme de Russell, devido ao tema: uma cinebiografia do compositor Tchaikovsky.

Depois disso, aceitou apenas conduzir as orquestras responsáveis pelas gravações das trilhas, função que exerceu no musical “Jesus Cristo Superstar” (1973), que lhe rendeu sua última indicação ao Oscar, e na sci-fi “Rollerball: Os Gladiadores do Futuro” (1975).

Longe do cinema, ele viu a carreira musical florescer, chegando a gravar cerca de 500 discos. Também foi maestro da várias orquestras, entre elas a Sinfônica e a Filarmônica de Londres, compôs músicas para a Broadway, sendo indicado ao Tony por suas canções de “Coco” (1969), criou duas óperas e recebeu seis indicações ao Emmy por trabalhos de TV.

“Na MGM, você sabia que ia trabalhar no ano seguinte, sabia que seria pago”, Previn disse ao jornal The Guardian em 2008. “Mas eu era muito ambicioso musicalmente para me conformar com isso. Eu queria apostar em desenvolver o talento que poderia ter.”

Em sua carreira musical, Previn foi extremamente versátil, estabelecendo-se inicialmente como um pianista de jazz (gênero a que voltou nos anos 1980), antes de se tornar reconhecido por seus muitos trabalhos de música erudita. De seus 10 prêmios Grammy (o “Oscar da música”), cinco foram conquistados por suas gravações clássicas, dois pelas trilhas sonoras, dois pelos discos jazz e um pelo álbum pop “Like Young”, de 1958.

Em 2010, ele recebeu um Grammy honorário pelas realizações de sua carreira.

O reconhecimento profissional foi acompanhado por uma vida pessoal atribulada. Previn se casou e se divorciou cinco vezes.

O primeiro casamento, em 1952, foi com a cantora de jazz Betty Bennett, de quem se divorciou em 1957, poucos meses após ela dar luz à segunda filha do casal, Alicia Previn (violinista da banda irlandesa In Tua Nua e fundadora dos Young Dubliners).

Ele teve uma extensa relação de trabalho com sua segunda esposa, a letrista, cantora, compositora e poeta Dory Previn. Casados em 1959, fizeram parceria em canções de filmes famosos como “Dois na Gangorra” (1962), “Um Amor do Outro Mundo” (1964), “À Procura do Destino” (1965) e “Harper – O Caçador de Aventuras” (1966).

Dory lutou com problemas emocionais e psicológicos ao longo de seu casamento de 11 anos, e teve um colapso quando Previn lhe disse que a estava trocando por Mia Farrow. O compositor e a mãe do “Bebê de Rosemary” se casaram em 1970 e sua união durou apenas nove anos.

Previn teve seis filhos com Mia, três biológicos e três adotados. Uma das crianças, Soon-Yi Previn, adotada na Coreia, acabou sendo pivô de um escândalo após a separação do casal. Em 1992, Farrow descobriu que seu então namorado Woody Allen estava tendo um caso com a jovem Soon-Yi. Logo em seguida, acusou o diretor de ter abusado da filha deles, Dylan, que ainda era uma criança. A polêmica dura até hoje, embora, em 1997, Soon-Yi e Woody Allen tenham se casado – e também adotaram duas meninas.

Depois do seu quarto casamento (com Heather Sneddon em 1982, o mais longevo, que durou até 2002), Previn casou-se com a violinista alemã Anne-Sophie Mutter, posteriormente escrevendo um concerto de violino para ela. Divorciaram-se em 2006, mas continuaram amigos e a trabalhar juntos ocasionalmente.