Morreu a atriz Verna Bloom, que estrelou os clássicos “Dias de Fogo”, “O Pistoleiro sem Nome”, “O Clube dos Cafajestes”, “Depois das Horas” e “A Última Tentação de Cristo”. Ela tinha 80 anos e faleceu na quarta (9/1) em Bar Harbour, no Maine (EUA), devido a complicações provocadas pela demência.
Nascida em 7 de agosto de 1938, em Lynn, Massachusetts, Bloom se formou na Universidade de Boston em 1959. Logo em seguida, mudou-se para Denver e fundou um teatro local, onde ajudou a produzir montagens de provocativas peças contemporâneas. Sua estréia na Broadway aconteceu em 1967, mesmo ano em que começou a fazer participações em séries de TV.
Sua chegada no cinema se deu em grande estilo, no clássico “Dias de Fogo” (Medium Cool, 1969), um filme revolucionário de Haskell Wexler, rodado em estilo de guerrilha, no papel de uma mãe solteira que se envolve na violência que toma conta de Chicago durante a caótica Convenção Nacional Democrata de 1968. As cenas de quebra-quebra na cidade foram registros reais, misturando ficção e documentário para narrar a história do envolvimento de Bloom com um cameraman (Robert Forster) que cobre o tumulto.
As imagens da atriz em um vestido amarelo em busca de seu filho perdido entre os manifestantes, os disparos de gás lacrimogêneo e o avanço de tanques e soldados armados – pano de fundo 100% real – tornou-se uma das cenas mais impressionantes do cinema americano daquele período – e de todos os tempos.
“Ela não era apenas uma atriz maravilhosa, ela era destemida”, disse Wexler, sobre a performance. “Eu estava mais assustado do que ela”, refletiu o diretor, sobre filmar em meio a um dos maiores tumultos civis da história dos EUA.
Após essa estreia à fogo, ela virou protagonista em Hollywood, tendo papéis de destaque em westerns como “Pistoleiro sem Destino” (1971), dirigido e estrelado por Peter Fonda, e o clássico “O Estranho sem Nome” (1973), dirigido e estrelado por Clint Eastwood, além do thriller criminal “Ruge o Ódio” (1973), com Robert Duvall.
A atriz também se destacou em telefilmes que marcaram a época, como “A Garota Viciada” (1975), em que viveu a mãe da personagem-título (papel da adolescente Linda Blair), “Contract on Cherry Street” (1977), no qual interpretou a mulher de Frank Sinatra, e “Amarga Sinfonia de Auschwitz” (1980), como uma música judia num campo de concentração nazista.
Mas foi, ironicamente, por um de seus menores papéis que se tornou mais lembrada: Marion Wormer, a mulher liberada do diretor da universidade de “Clube dos Cafajestes” (1978), que acaba traindo o marido (John Vernon) com um dos estudantes que ele mais odeia (Tim Matheson). Bloom revisitou o papel 25 anos depois num especial criado para acompanhar o lançamento da comédia de John Landis em Blu-ray, que contava, num falso documentário, o que tinha acontecido com os personagens do filme.
Ela voltou a trabalhar com Clint Eastwood em “Honkytonk Man – A Última Canção” (1982), antes de aparecer em seus dois últimos filmes, ambos dirigidos por Martin Scorsese, vivendo uma escultora moderna na comédia “Depois das Horas” (1985) e Maria em “A Última Tentação de Cristo” (1988).
Verna Bloom acabou se casando em 1972 com uma colaborador frequente de Scorsese, o roteirista Jay Cocks, que foi indicado ao Oscar por seu trabalho em “A Época da Inocência” (1993) e “Gangues de Nova York” (2002), e também escreveu o filme mais recente de Scorsese, “Silêncio” (2016).