“A Festa” é uma comédia irônica, de sorrisos, não de gargalhadas. Ao revelar-nos um universo perverso, que escamoteia todas as questões, o que fica é só aparência e vazio. O que é objeto de reflexão sobre o mundo dos bem-sucedidos e poderosos.
Um encontro íntimo reúne sete amigos, com a intenção de celebrar a ida de Janet (Kristin Scott Thomas) para o prestigioso Ministério da Saúde, no Reino Unido. É bom lembrar que o atendimento britânico de saúde é referência mundial . Pois bem, o filme tratará de pôr em cheque isso também.
O mais importante é que uma doença terminal, revelações sobre uma gravidez inesperada, infidelidades várias, lesbianismo e dependência de drogas serão elementos detonadores dessa celebração.
O desnudamento da burguesia poderosa que o filme apresenta faz lembrar o mestre espanhol Luís Buñuel e seu estilo corrosivo. No entanto, aqui não há propriamente surrealismo ou non sense. Tudo se dá numa dimensão que cabe no terreno racional. Com dificuldade, é verdade, mas cabe. O mais próximo do surreal é o ótimo personagem de Bruno Ganz, Gottfried, com sua energia positiva descolada da realidade, sua atitude de autoajuda e suas crenças alternativas.
Já a militante do partido que vai virar ministra nos é bastante familiar, no seu cinismo e descrença do seu papel republicano no governo. A intelectualidade real, ou simulada, dos demais não resiste ao crivo da razão e do equilíbrio. Jogam pesadamente na deslealdade, no que está encoberto ou omisso. Detonam a si mesmos e aos outros.
O título original “The Party” refere-se tanto à festa que implode quanto ao partido político – supostamente de esquerda. Um bom roteiro, diálogos atraentes, um elenco de peso e uma interessante opção pelo preto e branco, que reforça a ligação com o Buñuel dos primeiros tempos, faz do filme da cineasta Sally Potter (do clássico “Orlando, a Mulher Imortal”) uma ótima atração do presente ano cinematográfico.