Chefe da rede CBS e considerado o homem mais poderoso da TV americana neste século, Leslie Moonves foi acusado de assédio sexual por seis funcionárias da emissora, e outras tantas alegam que sofreram abusos durante período de trabalho na CBS. Os incidentes foram revelados em uma reportagem da revista The New Yorker, publicada nesta sexta-feira (27/7).
A reportagem é assinada por Ronan Farrow, que ganhou o prêmio Pulitzer pela investigação jornalística que trouxe à tona as denúncias contra Harvey Weinstein no ano passado. Assim como no caso de Weinstein, alguns dos incidentes são de mais de 20 anos atrás, em que Moonves teria apalpado e beijado à força funcionárias da emissora.
Quatro descreveram toques inapropriados ou beijos forçados durante o que deveriam ser reuniões de negócios, afirmando que se tratava de uma situação rotineira. Duas afirmaram que Les Moonves, como é mais conhecido, as intimidou fisicamente ou ameaçou atrapalhar suas carreiras.
“O que aconteceu comigo foi uma agressão sexual, e então fui demitida por não participar”, acusou a atriz e escritora Illeana Douglas.
Por situações como esta, todas as mulheres disseram que temiam até hoje falar sobre o assédio, porque isso poderia levar a uma retaliação de Moonves, que é conhecido na indústria por sua habilidade de fazer ou quebrar carreiras. “Ele se safou disso por décadas”, disse a escritora Janet Jones, que alega que teve que expulsá-lo depois que ele a beijou à força em uma reunião de trabalho.
Farrow afirma ter ouvido ainda 30 funcionários atuais e antigos da CBS, que relataram que esse tipo de comportamento era tolerado e incentivado no ambiente de trabalho, onde jornalistas da CBS News, denunciados por má conduta sexual, ganhavam promoções ao mesmo tempo em que a empresa pagava acordos a mulheres que os acusavam.
Entrevistado para a reportagem, o próprio Moonves admitiu que “pode ter deixado algumas mulheres desconfortáveis” no passado. “Aqueles foram erros, e eu lamento imensamente”, disse ele. “Mas eu sempre entendi e respeitei … que ‘não’ significa ‘não’, e eu nunca usei mal a minha posição para prejudicar ou atrapalhar a carreira de ninguém.”
Em resposta às denúncias, a CBS afirmou que irá investigar as acusações. Um comunicado emitido em nome da rede ressaltou que “todas as alegações de má conduta pessoal devem ser levadas a sério” e que após apurar os fatos “as medidas apropriadas” seriam tomadas.
O chefão da CBS é casado com a apresentadora Julie Chen, que comanda a versão americana do “Big Brother” desde 2004.
A emissora tem os maiores índices de audiência da TV aberta do país, e exibe sucessos longevos como “The Big Bang Theory” e “NCIS”. Sua programação também é considerada a mais convencional da TV americana, o que talvez explique sua penetração junto do grande público, mas esse sucesso tem se traduzido em fracasso na hora de negociar os programas para outras plataformas, que não demonstram o mesmo interesse em formatos antiquados.
Em compensação, Moonves lançou recentemente a CBS All Access, plataforma de streaming da emissora, como títulos como “Star Trek: Discovery”, “The Good Fight” e “Strange Angel”.
A denúncia vem à tona no momento em que o executivo de 68 anos se encontra em uma batalha judicial contra Shari Redstone, maior acionista da Viacom, companhia de comunicações “irmã” da CBS. Os dois brigam para decidir se as duas empresas devem se unir em uma só ou se devem se manter separadas. Moonves é contra a unificação, por considerar que a CBS pode se desvalorizar ao ser misturada com ativos deficitários como o estúdio Paramount e o canal pago MTV.