“Anna Karenina”, o romance de Liev Tolstói, se prestou a várias adaptações cinematográficas de sucesso e a produções bem cuidadas, caprichadas. A forte personagem feminina que encara o seu desejo, enfrenta os homens que ama ou que a amam e recebe a reprovação da sociedade, levando a um destino trágico, é muito atraente e sempre deu margem a reflexões sobre a questão de gênero, nas várias épocas em que foi encenada.
Grandes atrizes viveram a personagem, começando por ninguém menos do que Greta Garbo, em filme de Clarence Brown, de 1935. A também grande Vivian Leigh a viveu no filme de 1948, dirigido por Julien Duvivier. Jacqueline Bisset oi Anna Karenina em filme de Simon Langton, de 1985. Em tempos mais recentes, Sophie Marceau encarnou-a, no filme dirigido por Bernard Rose em 1997, e Keira Knightley, no filme de Joe Wright, em 2013.
Uma nova versão vem da Rússia, dirigida por Karen Shakhnazarov, o cineasta que fez “Tigre Branco”, em 2012, um espetáculo de suspense e guerra, com cenas muito bem construídas, de grande impacto cinematográfico. Com um talento para esse tipo de sequências, o drama intimista de Anna Karenina não ofereceria grandes oportunidades para a exploração de cenas em campo aberto, vistosas, como ele sabe fazer. Shakhnazarov inovou, fundindo a história de Tolstói com um outro conto russo, que se passa no acampamento militar/hospital, em plena guerra Rússia-Japão, de 1905: a história de Vronsky. Ali, dois personagens, seu filho e seu amante, tentam entender a tragédia vivida por Anna Karenina, em meio às providências de guerra, ataques, explosões, e o filme fica com a cara de Shakhnazarov.
O recurso permite pensar a posteriori sobre o drama, mas acrescenta pouco à situação dramática e até confunde um pouco o entendimento da trama. Penduricalhos como a da órfã de guerra chinesa, que circula pelo acampamento militar, não se justificam. Em contrapartida, o filme adquire uma beleza visual admirável.
“Anna Karenina: A História de Vronsky” vale pelas sequências externas, não só da guerra, mas também da corrida de cavalos no Jóquei: brilhante. O baile é muito bem encenado, com riqueza na direção de arte, figurinos. Enfim, é uma produção muito bonita e bem cuidada, sob a batuta de um cineasta muito competente, em que pesem as restrições que se possam fazer à sua estruturação dramática.