A atriz Natalie Portman (“Aniquilação”) causou polêmica internacional ao se recusar a viajar a Israel para receber um prêmio de US$ 1 milhão. Criado em 2014, o Prêmio Gênesis homenageia pessoas notáveis ”que inspiram os outros através de sua dedicação à comunidade judaica e aos valores judaicos” e este ano seria entregue à atriz, que nasceu em Jerusalém.
A atriz foi anunciada como homenageada em novembro pela organização. Mas não irá participar do evento, marcado para junho. Em um comunicado publicado em seu site, a fundação lamentou a decisão. “Eventos recentes em Israel foram extremamente perturbadores para ela, e ela não se sente à vontade para participar de qualquer evento público em Israel”, diz o texto.
“A Sra. Portman é uma atriz altamente talentosa, uma ativista social comprometida e um ser humano maravilhoso. Os funcionários da Fundação gostaram de conhecê-la nos últimos seis meses, admiram sua humanidade e respeitam seu direito de discordar publicamente das políticas do governo de Israel”, elogiam os responsáveis pela premiação. “No entanto, estamos muito tristes por ela ter decidido não participar da cerimônia do Prêmio Gênesis em Jerusalém por razões políticas. Tememos que a decisão de Portman faça com que nossa iniciativa filantrópica seja politizada, algo pelo qual trabalhamos duramente nos últimos cinco anos para evitar”.
Israel foi alvo de críticas internacionais nas últimas semanas por ter usado táticas letais durante confrontos com palestinos na fronteira com Gaza, nos quais 31 palestinos morreram e centenas ficaram feridos, entre eles o cinegrafista Yasser Murtaja, do premiado documentário “Human Flow”, assassinado por militares israelenses enquanto vestia um colete escrito “imprensa”. O governo de Israel diz que a ação foi uma defesa de sua fronteira.
Após o anúncio do cancelamento da homenagem, um deputado do parlamento de Israel defendeu que a atriz seja privada de sua cidadania israelense, por conta de sua postura. “Portman não tem problemas em explorar suas raízes judias para promover sua carreira ou em expressar seu orgulho por fugir do serviço [militar]. E há pessoas respeitadas que acham que ela merece a honraria, chamada de ‘Prêmio Nobel Judaico’. Mas o título é ‘O Fim’: O ministro [Aryeh] Deri [Interior]deveria tirar sua cidadania israelense”, declarou Oren Hazan, do partido governista Likud, em seu Twitter, pedindo também um boicote aos filmes da artista.
Diante da polêmica, ela resolveu se manifestar. Em comunicado divulgado nesta sexta-feira (20/4), a atriz deixou claro que seu protesto não é contra a comunidade judaica, da qual ela se orgulha de pertencer, e sim contra o atual governo do primeiro ministro Benjamin Netanyahu.
“Minha decisão de não comparecer à cerimônia do Prêmio Gênesis foi descaracterizada por outros. Deixe-me falar por mim mesma. Decidi não comparecer porque não queria aparecer endossando Benjamin Netanyahu, que fará um discurso na cerimônia. Da mesma forma, eu não faço parte do movimento BDS e não o endosso” escreveu ela, referindo-se ao grupo que prega boicote e sanções contra Israel pelo tratamento dado aos palestinos e à Cisjordânia.
“Como muitos israelenses e judeus ao redor do mundo, posso ser crítica da liderança em Israel sem querer boicotar toda a nação. Eu valorizo meus amigos e familiares israelenses, a comida israelense, os livros, a arte, o cinema e a dança. Israel foi criado exatamente há 70 anos como um refúgio para refugiados do Holocausto. Mas os maus tratos contra aqueles que sofrem com as atrocidades de hoje simplesmente não estão de acordo com meus valores judaicos. Porque eu me importo com Israel, eu devo protestar contra a violência, a corrupção, a desigualdade e o abuso de poder”, acrescentou.