A atriz Molly Ringwald, a eterna “Garota de Rosa-Shocking”, resolveu revisitar seus clássicos adolescentes dos anos 1980 com um olhar maduro, marcada pela perspectiva do movimento #MeToo, e encontrou muito o que recriminar nos filmes que ajudaram a redefinir a adolescência para uma geração.
Em um ensaio publicado na revista The New Yorker, ela criticou diversas cenas escritas e dirigidas por John Hughes, diante de problemas que encontrou ao rever “Gatinhas e Gatões” (1984) e “Clube dos Cinco” (1985) com sua filha. Curiosamente, ela não reclamou de “A Garota de Rosa Shocking” (1986).
A lista de problemas vai de cenas de assédio sexual até estereótipos ofensivos.
A cena que mais a incomoda é o momento em que Bender (o personagem Judd Nelson) levanta a saia de Claire, sua personagem em “Clube dos Cinco”, especialmente diante das denúncias contra Harvey Weinstein.
“Ao assistir ‘Clube dos Cinco’ com minha filha, eu fiquei pensando sobre essa cena. Principalmente depois de várias mulheres revelarem suas acusações de assédio sexual contra o produtor Harvey Weinstein e com a força do movimento #MeToo. Se atitudes que subjugam as mulheres se tornaram sistemáticas em nossa sociedade, acredito que a arte que consumimos e adoramos tem alguma culpa na hora de reforçar esse tipo de situação. Bender assedia Claire sexualmente durante todo o filme. Quando não está sexualizando-a, passa a atacá-la verbalmente ou a chama de apelidos maldosos. Ele nunca se desculpa e, no fim, ainda fica com a garota!”, lamenta.
Ela ainda contou que, graças a boa relação que tinha com John Hughes, conseguiu fazê-lo cortar uma cena muito machista do filme, que envolvia a professora de educação física nua na piscina da escola, espiada pelo professor Sr. Vernon (Paul Gleason).
“Havia uma cena em que uma professora atraente de educação física nadava nua na piscina da escola e o Sr. Vernon, o professor encarregado de cuidar da detenção dos alunos, a espiava. Essa cena não estava no roteiro original quando eu li, mas John quis colocar e eu pedi para ele cortá-la. A atriz pode ter ficado brava comigo, mas acredito que o filme fica melhor sem essa cena”.
Ringwald ainda conta que ficou incomodada com a quantidade de palavras pejorativas como “fag” e “faggot”, referentes a gays, disparadas em “Clube dos Cinco” – “jogadas o tempo inteiro no longa”.
Além disso, a atriz também reclamou do nerd (Anthony Michael Hall) que, em “Gatinhas e Gatões”, leva uma adolescente bêbada (Haviland Morris) para casa e se aproveita que ela está desacordada para tirar fotos como se eles tivessem transado.
Apesar de perceber que o tempo mudou a perspectiva sobre essas cenas, ela mantém seu orgulho de ter trabalho com Hughes e de todas suas parcerias. Não só pela oportunidade que recebeu, mas pela importância que os filmes alcançaram na história do cinema.
“Ver que dois filmes dele tinham mulheres como protagonistas [Gatinhas e Gatões e A Garota de Rosa-Shocking, ambos estrelados por ela] e examinavam sentimentos delas diante de coisas simples que aconteciam em suas vidas, e viraram sucessos de bilheteria, foi algo incrível. Considere que os poucos blockbusters dos últimos anos estrelados por jovens mulheres foram, majoritariamente, ambientados em futuros distópicos ou envolviam vampiros e lobisomens.”
Molly Ringwald continua trabalhando em obras voltadas para adolescentes. Depois de viver a mãe da personagem de Shailene Woodley na série “A Vida Secreta de uma Adolescente Americana” (The Secret Life of the American Teenager), ela interpreta a mãe de Archie Andrews (K.J. Apa) em “Riverdale”.