A programação cinematográfica da semana destaca dois indicados ao Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira, mas não é isso que o circuito privilegia, e sim uma franquia campeã do Framboesa de Ouro, a premiação americana paralela que ridiculariza os piores do cinema. Clique nos títulos abaixo para ver os trailers de todas as estreias desta quinta (8/2).
“Cinquenta Tons de Liberdade” monopoliza o circuito com lançamento em quase 1,5 mil salas, com a façanha de ser o pior exemplar da trilogia. A estreia também acontece neste fim de semana nos Estados Unidos e, lá, a crítica cravou 7% de (des)aprovação, segundo a média do site Rotten Tomatoes. Podre de ruim.
Com Dakota Johnson e Jamie Dorman de volta aos papéis do casal com nomes de perfume, Anastasia e Christian Grey, a trama desta vez tem vestido branco de noiva, casamento, gravidez e uma subtrama de novela da Globo, com vilão psicopata e reviravoltas que não estragam o final feliz. Nem parece que tudo começou como literatura erótica. A falta de excitação do final talvez agrade quem tenha fetiche por vida doméstica. E quem ainda gosta de ouvir cantor de boy band em trilha de filme “adulto”.
Para aqueles sem idade para casar, a opção dos shoppings é “Meu Amigo Vampiro”, versão animada dos livros infantis de Angela Sommer-Bodenburg, que já foram adaptados numa série da TV alemã nos anos 1980 e no filme hollywoodiano “O Pequeno Vampiro”, no ano 2000. A animação computadorizada alemã se esforça, mas sofre na comparação com equivalentes americanos pelo enorme atraso tecnológico e trama simplista.
Sofrimento mesmo é o que promete “O Que Te Faz Mais Forte”, filme que mistura patriotismo e superação, ingredientes que costumam levar ao Oscar. Mas embora tenha entusiasmado críticos americanos – tem 92% de provação no Rotten Tomatoes – , não contagiou as premiações do final do ano, mesmo com première no Festival de Toronto. Talvez pelo descaramento de seu objetivo de manipulação emocional.
A trama é baseada na história real de Jeff Bauman, vítima do atentado terrorista na maratona de Boston em 2013, que perdeu as pernas e precisou reencontrar forças para continuar vivendo, e no processo se tornou símbolo do espírito de uma nação. Jake Gyllenhaal (“Animais Noturnos”) faz as bandeiras tremularem no papel principal.
A oferta de filmes melhora consideravelmente conforme diminuem as salas disponíveis. Cada vez mais exclusivista, o circuito limitado oferece três maravilhas cinematográficas para poucos.
Melhor Roteiro no , “O Sacrifício do Cervo Sagrado” é um filme de terror do grego Yorgos Lanthimos com atores hollywoodianos. Aflitiva, a trama acompanha a facilidade com que um jovem psicopata carismático se aproxima da família de um médico. Ele parece idolatrar o doutor, que cuidou de seu pai, mas quando os filhos do protagonista começa a adoecer e demonstrar problemas físicos, o rapaz avisa que todos irão morrer.
Segundo longa falado em inglês do diretor grego Yorgos Lanthimos, após “O Lagosta” (2015), também volta a juntar Nicole Kidman e Colin Farrell, que recentemente filmaram juntos “O Estranho que Nós Amamos”.
Candidato russo ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, “Sem Amor” mostra como a briga constante entre marido e mulher, que pretendem se separar, leva uma criança ao desespero, até o dia em que o menino desaparece sem deixar pistas e quem se desespera são seus pais.
Dirigido por Andrey Zvyagintsev (do igualmente premiado “Leviatã”), o drama venceu o Festival de Londres, o Prêmio do Júri do Festival de Cannes e também está indicado ao Spirit Awards.
Por fim, “O Insulto” é o primeiro filme libanês a disputar o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Mas seu diretor começou a carreira em Hollywood. Ziad Doueiri foi assistente de câmera de ninguém menos que Quentin Tarantino, em filmes como “Cães de Aluguel” (1992), “Pulp Fiction” (1994) e “Jackie Brown” (1997). “O Insulto” é seu quarto longa como diretor, sempre se debruçando sobre conflitos culturais de etnias do Oriente Médio – e todos têm sido consistentemente premiados.
A trama repercute um julgamento em que um cristão libanês acusa um refugiado palestino de agressão. Entretanto, ambos são obrigados a abordar as consequências de um xingamento, desferido pelo cristão e que se transformou em briga pública violenta, refletindo a divisão politica, religiosa e cultural do Líbano. Kamel El Basha, intérprete do palestino, foi premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza deste ano.
Curiosamente, o filme quase deixou de ser escolhido pelo Líbano para disputar indicação ao prêmio da Academia. O motivo: cenas filmadas em Israel, o que é considerado um crime pelo governo libanês. Seu diretor chegou, inclusive, a ser detido, mas o apoio público do Ministério da Cultura, com o aceno ao Oscar, evitou o pior.