O presidente dos Estados Unidos Donald Trump fez uma viagem sigilosa nesta semana. Ele visitou o massacre da escola de Columbine, em 20 de abril de 1999. E o que aprendeu com esse uso governamental da máquina do tempo secreta foi a desculpa dada na época para as mortes sem sentido de crianças por um colega armado. A culpa foi de “Matrix”. De Hollywood e da indústria de games violentos.
De volta a 2018, ele repetiu o que aprendeu de seu passeio pelo passado. 19 anos depois, a culpa pelo massacre de Parkland, na Flórida, em que um ex-estudante fuzilou 17 crianças, foi de “Matrix”. Ops, do filme que estiver em cartaz neste momento. De Hollywood e da indústria de games violentos.
“Eu estou ouvindo cada vez mais, de algumas pessoas, que games estão muito violentos, e isso afeta a cabeça das crianças”, disse o presidente à CNN. “E, além dos games, os filmes também”.
Esta foi sua resposta ao clamor popular por maior controle na venda de armas nos Estados Unidos. Dizendo que ia ser o presidente que faria algo à respeito da violência crescente que tem causado tantas vítimas nas escolas do país, ele encontrou seu alvo.
“Nós precisamos criar um sistema de censura e classificação indicativa [diferente do que está em vigência nos EUA]. Hoje em dia, crianças podem assistir a filmes violentos e sangrentos, desde que eles não tenham sexo. Isso está errado”, declarou ainda.
Controle de venda de armas? Não, Trump quer aumentar a quantidade de armas disponíveis para impedir os massacres. Outra de suas propostas visionárias é armar professores. Assim, em vez de massacres cometidos por um único estudante, a ideia é incentivar tiroteios entre várias pessoas numa escola repleta de crianças.
A culpa é realmente de Hollywood, por ter feito tantos filmes que glamourizaram o Velho Oeste. E da TV. Por ter transformado Trump num astro de reality show, que agora confunde a realidade com filme violento.
Enquanto isso, no país tropical em que a violência supostamente é tão arraigada que levou outro presidente a decidir por intervenção militar em seu principal cartão postal, parlamentares elaboram mudanças na lei para permitir aumentar o arsenal disponível nas ruas.
Não é preciso usar a máquina do tempo de Trump para ver o resultado. Quando der errado, já se sabe quem levará a culpa.
A única vantagem dessa máquina agora seria acelerar para as eleições de 2018 e mudar logo – e completamente – todo esse jogo político, viciado e previsível. O mais violento de todos.