O cantor Justin Timberlake divulgou o clipe de “Supplies”, seu novo funk sintético, que traz um visual fantástico, surreal e futurista, mesclado com o noticiário de protestos civis atuais.
O vídeo abre com Timberlake diante de um paredão de TVs, que misturam os rostos de Harvey Weinstein, Donald Trump, Kevin Spacey, cartazes contra o racismo, do movimento #Metoo, mensagens de empoderamento, além de registros de confrontos e repressão policial. A referência é a cultuada sci-fi “O Homem que Caiu na Terra” (1976), que logo cede lugar para cenas de pesadelos, com crocodilos brancos nas calçadas, colares de revólveres, céus formados por guarda-chuvas, sombras que escapam de muros opressores, destruição de torres de dinheiro e mulheres e negros protestando sem parar.
Há simbolismo em toda a parte, além de participações do rapper Pharrell Williams e da atriz Eiza González (“Em Ritmo de Fuga”). Ela se alterna entre aparições como rainha, líder da resistência, dama em perigo e sobrevivente do apocalipse.
A direção é do novo mago dos vídeos musicais, o diretor Dave Meyers (que fez “Havana”, de Camila Cabello, e “Humble”, de Kendrick Lamarr).
Mas… a letra não tem nada a ver com o recado visual. Nela, Timberlake pinta, sim, um cenário pós-apocalíptico, referenciando até a série “The Walking Dead”. Entretanto, tudo é motivo de sexo na sua narrativa. “Eu vou ser o gerador/Me ligue quando precisar de eletricidade”, ele sugere à parceira com quem sobrevive ao holocausto zumbi. Bizarro.
É possível considerar o clipe como uma tentativa de emular o estilo cifrado dos vídeos mais recentes de Taylor Swift, repletos de mensagens subliminares. Mas as referências ao #Metoo já rendem controvérsia nas redes sociais, uma vez que o cantor preferiu se calar diante das cobranças por sua participação no novo filme de Woody Allen, “Roda Gigante”.
“Supplies” é uma bela luta de contexto contra intertexto.