A atriz italiana Asia Argento, uma das primeiras mulheres a acusar o produtor Harvey Weinstein de estupro, revelou ter precisado deixar seu país após fazer a denúncia. Ela se mudou para Berlim, na Alemanha, após ser atacada por uma avalanche de críticas machistas na imprensa italiana. Basta acompanhar seu Twitter para testemunhar um verdadeiro linchamento moral, em que a atriz é chamada de prostituta, cocainômana e coisas piores.
Em entrevista à rede italiana Rai, Argento contou que denunciar o assédio inspirou outro tipo de assédio contra ela. “Não tinha tido coragem de falar até agora porque… viu o que aconteceu, vinte anos depois do ataque?”
A atriz revelou o estupro em uma reportagem da revista New Yorker. Em seu relato, ela contou que foi atacada por Weinstein quando tinha apenas 21 anos, após ser convidada para uma festa onde só havia ele em um quarto de hotel.
Parte da mídia italiana tem criticado a atriz e outras vítimas de Weinstein pela demora em revelar os abusos cometidos pelo produtor. Um exemplo pode ser visto no título de um artigo publicado no jornal Libero: “Primeiro elas cedem, depois reclamam e fingem lamentar”. O subtítulo completa: “Ceder aos avanços sexuais de seu chefe é prostituição, não estupro”.
No Twitter, Argento afirmou que vai processar o jornal por “ofender sua reputação e insultar sua dignidade como mulher”. O jornal respondeu aumentando (ou baixando) o tom, com artigos que tentam “explicar” a diferença entre prostituição e estupro.
Asia definiu o posicionamento da imprensa de seu país como medieval, ao falar sobre o caso com a revista Variety. Seria um reflexo da cultura católica do país, que influencia até as leis italianas. “Eu estou sendo criticada pela mídia italiana, o que é medieval”, disse ela, acrescentando que “até os anos 1960 você podia matar sua mulher e isso era chamado de ‘crime de honra’ se ela tivesse traído. Até 1996, o estupro era considerado um crime contra a moral, não contra uma pessoa”.
Mais de 40 mulheres já declararam terem sido abusadas pelo produtor desde que a atriz Ashley Judd tomou coragem para ser a primeira a denunciar publicamente o comportamento do magnata, numa reportagem do jornal The New York Times, publicada em 5 de outubro. Em pouco mais de uma semana, diversas estrelas famosas compartilharam suas experiências de terror com Weinstein, entre elas Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Rose McGowan, Léa Seydoux e Cara Delevingne. Uma reportagem ainda mais polêmica, da revista New Yorker, apresentou as primeiras denúncias de estupro, inclusive da atriz Asia Argento.
Após o escândalo ser revelado, Weinstein foi demitido da própria produtora, The Weinsten Company, teve os créditos de produtor retirado de todos os projetos em andamento de que participa e foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelo Oscar, e pelo BAFTA, a Academia britânica, além do Sindicato dos Produtores dos Estados Unidos (PGA). Ele também deve enfrentar um processo criminal.