“Aquarius” venceu seu Oscar, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, versão nacional da cerimônia da Academia americana, realizada pela Academia Brasileira de Cinema. O evento do “Oscarito”, ou melhor, Grande Otelo, como se chama o troféu, aconteceu na noite de terça (5/9) no Teatro Municipal, numa cerimônia confusa, que deu mais atenção ao tapete vermelho, repleto de celebridades e paparazzi, do que à transmissão televisiva do Canal Brasil, graças à cenografia pensada apenas para o público do teatro.
Além de Melhor Filme, “Aquarius” também recebeu o prêmio de Direção, mas Kleber Mendonça Filho não compareceu à festa do “Oscar nacional”. Quem discursou foi a produtora Emilie Lesclaux, que disse que a equipe gostaria de “dedicar o prêmio a todos que no Brasil trabalham com cultura”.
Ironicamente, Sonia Braga, responsável pelo sucesso internacional do longa, não foi premiada. Quem recebeu o troféu de Melhor Atriz foi Andréia Horta, pela cinebiografia de “Elis”. Foi o prêmio mais importante da produção, que dominou as categorias técnicas – com vitórias em Fotografia, Montagem, Direção de Arte, Trilha Sonora Original, Som, Maquiagem e Figurino.
Por sinal, o domínio de “Elis”, com oito troféus, não reflete, de forma alguma, como o filme de Hugo Prata foi considerado em sua passagem diante de outros júris – o Festival de Gramado lhe concedeu apenas vitórias de Atriz e Montagem contra somente outros cinco filmes.
As qualidades até então ocultas de “Elis” poderiam se beneficiar de uma redescoberta, caso o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro fosse relevante. Como premia em setembro filmes exibidos no ano anterior, o “Oscar nacional” é tão útil quanto um tapinha nas costas. Nada acrescenta às produções, que já encerraram seu ciclo comercial, inclusive com exibições na TV, lançamentos em DVD (cadê os blu-rays nacionais?) e streaming.
A cada ano que passa, mais e mais críticos do troféu do parceiro do Oscarito chamam atenção para o problema de calendário do evento. Mas a falta de iniciativa mantém a premiação no fim da fila, de modo que os dois Kikitos em Gramado continuam a valer cem vezes mais que os oito Grandes Otelos de “Elis”.
A falta de relevância do evento em relação ao mundo real é tanta que parte da cerimônia foi ocupada por depoimentos de cineastas sobre a importância do cinema. Sério: um evento que premia cinema, com uma plateia formada por gente que faz cinema, transmitido num canal de cinema, fez questão de reafirmar que cinema é… importante.
Mas importante mesmo era o troféu valer alguma coisa. Para isso, precisaria se valorizar. Dicas: antecipar para o começo do ano, fazer uma cerimônia para a TV e não para os amigos presentes, não filosofar sobre o óbvio, não dividir as já inúmeras categorias entre dois premiados e não dar um troféu de melhor roteiro para “Minha Mãe É uma Peça 2”.
Vencedores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017
Melhor Filme
“Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho
Melhor Direção
Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”)
Melhor Ator
Juliano Cazarré (“Boi Neon”)
Melhor Atriz
Andréia Horta (“Elis”)
Melhor Ator Coadjuvante
Flavio Bauraqui (“Nise – O Coração da Loucura”)
Melhor Atriz Coadjuvante
Laura Cardoso (“De Onde Eu Te Vejo”)
Melhor Roteiro Original
Domingos Oliveira (“BR716”) e Gabriel Mascaro (“Boi Neon”)
Melhor Roteiro Adaptado
Fil Braz e Paulo Gustavo (“Minha Mãe É uma Peça 2”) e Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco (“Big Jato”)
Melhor Montagem de Documentário
Renato Vallone, “Cinema Novo”
Melhor Montagem de Ficção
Tiago Feliciano (“Elis”)
Melhor Direção de Fotografia
Adrian Teijido (“Elis”) e Diego Garcia (“Boi Neon”)
Melhor Direção de Arte
Frederico Pinto (“Elis”)
Melhor Trilha Sonora
Mateus Alves (“Aquarius”)
Melhor Trilha Sonora Original
Otavio de Moraes (“Elis”)
Melhor Som
Jorge Rezende, Alessandro Laroca, Armando Torres Jr. e Eduardo Virmond Lima (“Elis”)
Melhores Efeitos Visuais
Marcelo Siqueira (“Pequeno Segredo”)
Melhor Maquiagem
Anna Van Steen (“Elis”)
Melhor Figurino
Cristina Camargo (“Elis”)
Melhor Comédia
“O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes
Melhor Documentário
“Cinema Novo”, de Eryk Rocha, e “Menino 23 — Infâncias Perdidas no Brasil”, de Belisario Franca.
Melhor Filme Estrangeiro
“A Chegada”, de Denis Villeneuve
Melhor Curta de Ficção
“O Melhor Som do Mundo” de Pedro Paulo de Andrade
Melhor Curta de Animação
“Vida de Boneco”, de Flávio Gomes
Melhor Curta de Documentário
“Buscando Helena”, de Ana Amélia Macedo e Roberto Berliner