A Comic-Con original, criada em 1970 no subsolo de um hotel de San Diego, começa sua edição de 2017 nesta quinta (20/7), bem diferente de sua proposta inicial. Fundada por fãs preocupados em validar a cultura dos quadrinhos, hoje o evento é um grande intervalo de Superbowl interativo, em que a indústria cultural anuncia produtos para consumo. Assim como no Superbowl, serão divulgados trailers e vídeos exclusivos. A parte interativa fica por conta de painéis e encontros com as estrelas dos produtos, uma extensão live action dos comerciais.
Lotado por pessoas uniformizadas como super-heróis, o evento extrapolou em muito seu objetivo inicial. Quadrinhos deixaram de ser um aspecto marginal da cultura pop para se tornar um negócio multibilionário, a ponto da própria Comic-Con ter virado franquia. Hoje, estende-se até ao Brasil.
A ironia é que as próprias editoras e lojas de quadrinhos agora acham que não tem mais espaço na Comic-Con. A Miles High, tradicional participante, decidiu cancelar sua presença nesta e em futuras edições. Isto porque a convenção é hoje dominada por estúdios de TV, cinema e games, que usam os gibis apenas como fonte de referência.
O negócio é tão bom que a Disney decidiu criar a sua própria Comic-Con, a feira D23, em vez de pagar para participar da celebração de San Diego. Por isso, não há investimento da dona das marcas Marvel e “Star Wars” na Comic-Con. Ou seja, a Comic-Con já não é mais um multiverso de possibilidades, apenas uma possibilidade de negócios.
A presença de heróis da Marvel se deve mais à inciativa de empresas licenciadas, como a Fox, que lança os filmes e séries do universo mutante (“X-Men”, “Deadpool”), e a Netflix, responsável por séries de heróis urbanos (“Os Defensores”). Mas há painéis para discutir efeitos e o fandom da Marvel, com participação do presidente do Marvel Studios, que podem justificar a ausência de videos de super-heróis na recente D23.
Em compensação, a Warner investe forte para destacar os filmes e séries de super-heróis de sua empresa de quadrinhos, a DC Comics. São previstas novidades sobre “Liga da Justiça”, “Aquaman” e muito mais.
Além de personagens de quadrinhos, Hollywood também usa a sinergia da Comic-Con para impulsionar futuros blockbuster, como “Blade Runner 2049”, “Jogador Número 1” e outros, visando gerar expectativa capaz de garantir bilheterias.
O mundo das séries de fantasia, terror e sci-fi também é bem representado por produções como “Game of Thrones”, “The Walking Dead”, “Star Trek: Discovery”, “Doctor Who”, “Supernatural” e “Stranger Things”.
De fato, a possibilidade de encontrar artistas das mais variadas produções no mesmo espaço é que impulsiona os fãs a encarar viagens, filas e apertos diversos para incluir uma Comic-Con em suas vidas. Mesmo que isso signifique vibrar de alegria extrema por poder ver um novo comercial (também disponibilizado na internet).