Graças à compra da Marvel pela Disney, o lendário quadrinista Jack Kirby, cocriador dos principais heróis da editora de quadrinhos (do Capitão América aos X-Men) será transformado em “Lenda Disney”, numa homenagem póstuma planejada para a D23 Expo 2017, a Comic-Con da Disney.
Ironicamente, a nova “Lenda Disney” só fez um trabalho para a Disney em sua vida inteira – a adaptação em quadrinhos da cultuada sci-fi “O Buraco Negro” (1979). Mas compras e aquisições colocaram as principais realizações de sua carreira sob controle da empresa do criador de Mickey Mouse.
A homenagem também reflete um desdobramento legal recente. Após décadas se recusando a reconhecer os direitos autorais de Kirby, a Marvel entrou em acordo com seus herdeiros em 2014, e desde então os filmes baseados em suas criações referenciam sua autoria original – ao lado de Stan Lee, Joe Simon e outros.
A carreira de Kirby começou em 1936, quando desenhava tiras de jornal para o Lincoln Newspaper Syndicate. Em 1940, Kirby criou o Capitão América com o escritor Joe Simon para a Timely Comics – uma empresa que mais tarde passaria a se chamar Atlas Comics e finalmente Marvel Comics – , dando início a uma das carreiras mais criativas do novo meio de comunicação, que lhe renderia o apelido de “Rei dos Quadrinhos”.
Kirby não trabalhou apenas com super-heróis, tendo também desenhado romances, westerns, ficção científica e histórias de terror. Seus quadrinhos de romance, por sinal, tornaram-se cultuadíssimos ao inspirarem o movimento da pop art, entre os anos de 1950 e 1960.
Trabalhando ao lado de Stan Lee, ele criou a maioria dos super-heróis da Marvel dos anos 1960, iniciando pelo Quarteto Fantástico em 1961. Mas uma briga por créditos o levou a se mudar para a rival DC Comics, onde concebeu o maior vilão da história da editora: Darkseid, em 1970. Kirby teve maior reconhecimento na DC, onde sempre encontrou as portas abertas e onde encerrou sua carreira nos anos 1990.
Apesar de suas criações terem alimentado o surgimento de uma verdadeira indústria cultural, o “Rei” faleceu brigado com a Marvel em 1994, aos 74 anos de idade, lutando para recuperar na justiça as artes originais que ele tinha desenhado para assim conseguir levantar algum dinheiro, já que a editora se recusava a lhe dar quaisquer créditos.
Para se ter ideia, os próximos filmes da Marvel não existiriam se Jack Kirby não tivesse concebido seus personagens: “Thor: Ragnarok”, “Pantera Negra”, “Vingadores: Guerra Infinita” e “Homem-Formiga e a Vespa”.
Com sua homenagem, a Disney, ao menos, repara a maior e mais duradoura história real de supervilania da Marvel.