A cantora Mallu Magalhães decidiu se pronunciar, após seu novo clipe ser acusado de racista. Em comunicado, ela pede desculpas e afirma que “a ideia era ter um clipe com excelentes dançarinos que despertassem nas pessoas a vontade de dançar, de se expressar”, mas que entende as “interpretações que derivaram do clipe”.
“A arte é um território muito aberto e passível de diferentes interpretações e, por mais que tentemos expressar com precisão uma ideia, acontece de alguns significados, às vezes, fugirem do nosso controle. Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato. Li cada uma das críticas, dos posts e comentários, e o debate me fez refletir muito sobre o tema. Entendo as interpretações que derivaram do clipe, mas gostaria de deixar claro minhas reais intenções”, completa.
No vídeo da música “Você Não Presta”, a cantora requebra ao lado de dançarinos negros e a combinação, além da forma como eles são retratados, causou polêmica.
Como os dançarinos vestem poucas roupas e estão com o corpo besuntado em óleo, ativistas apontaram que se trata de um contexto racista, já que há a hipersexualização do corpo numa prática que remete à época da escravidão, quando os escravos tinham o corpo besuntado em banha para parecerem mais saudáveis e esconder os defeitos físicos.
Para complicar ainda mais, há uma sequência em que os dançarinos aparecem atrás de uma grade de ferro. É a estrutura metálica de uma escada, mas a associação que se faz é de uma cela de prisão. No pior timing do mundo, é justamente nessa hora que ela canta o refrão: “Eu convido todo mundo para minha festa, só não convido você porque você não presta”…
Em outra sequência, o cenário vira paredes de tijolos expostos, que lembram barracos de favela.
O distanciamento da cantora do restante da equipe também foi alvo de críticas. Muitos apontam que Mallu não se coloca como integrante do grupo nas imagens.
Mas não pára nisso. Há intertexto no intertexto. O fato de Mallu usar uma camiseta estampada com “Oscar 2002” remete ao único ano em que dois negros (Denzel Washington e Halle Berry) venceram o troféu de Melhor Ator e Melhor Atriz na história da premiação da Academia. 2002 também foi o ano do lançamento do filme brasileiro “Cidade de Deus”…
Houve até quem lembrasse que a cantora mora em Portugal, e a estética do clipe, que sexualiza negros e glamoriza a favela, é um esterótipo de como os europeus imaginam o Brasil.
Segundo ela, as reações foram “uma oportunidade de aprender”. E ela reitera seu “pedido de desculpas”.
Leia abaixo o comunicado na íntegra:
“Fico muito triste em saber que o clipe da música ‘Você não Presta’ possa ter ofendido alguém. É muito decepcionante para mim que isso tenha acontecido. Gostaria de pedir desculpas a essas pessoas. Meu trabalho e minha mensagem têm sempre finalidade e ideais construtivos, nunca, de maneira nenhuma, destrutivos ou agressivos.
A arte é um território muito aberto e passível de diferentes interpretações e, por mais que tentemos expressar com precisão uma ideia, acontece de alguns significados, às vezes, fugirem do nosso controle.
Sei que o racismo ainda é, infelizmente, um problema estrutural e muito presente. Eu também o vejo, o rejeito e o combato.
Li cada uma das críticas, dos posts e comentários, e o debate me fez refletir muito sobre o tema. Entendo as interpretações que derivaram do clipe, mas gostaria de deixar claro minhas reais intenções.
A ideia era ter um clipe com excelentes dançarinos que despertassem nas pessoas a vontade de dançar, de se expressar. Foram convidados pela produtora e pelo diretor os bailarinos Bruno Cadinha, Aires d´Alva, Filipa Amaro, Xenos Palma, Stella Carvalho e Manuela Cabitango. Com a última, inclusive, tive a alegria de fazer aulas para me preparar para o vídeo.
É realmente uma tristeza enorme ter decepcionado algumas pessoas, mas ao mesmo tempo agradeço a todos por terem se expressado. E reitero o meu pedido de desculpa. É uma oportunidade de aprender.
Espero que, após este esclarecimento, seja aliviado deste espaço de conversa qualquer sentimento de ofensa ou injustiça, ficando os fundamentos nos quais tanto acredito: a dança, a arte e o convite à música.”