Importantes cineastas europeus, incluindo Michael Haneke (Áustria), Wim Wenders (Alemanha), Paolo Sorrentino (Itália), os irmãos Dardenne (Bélgica), Stephen Frears (Reino Unido), Michel Hazanavicius (França), Cristian Mungiu (Romênia), Fernando Trueba e Alejandro Amenábar (ambos da Espanha), assinaram nesta segunda-feira (22/5) um manifesto em defesa de maior regulamentação sobre os serviços de streaming na Europa.
Divulgado no Festival de Cannes, onde a seleção de dois filmes da Netflix despertou polêmica, o abaixo-assinado defende a “territorialização” dos serviços, pede cotas para filmes europeus nos serviços de streaming em atividade na Europa, diferenciando a produção cinematográfica de cada país, além da implementação da mesma taxação existente para a TV e pagamentos vinculados à lucratividade de um filme. Enfim, regras fiscais e de proteção de mercado, num apelo dirigido ao Parlamento Europeu.
Segundo o texto, “a integração dos gigantes da Internet na economia criativa europeia é determinante para o futuro do cinema”. E, para que isso aconteça, os cineastas consideram que “a Europa deve definir uma meta e assegurar as condições de um jogo competitivo mais justo e sustentável entre todos aqueles que difundem nossas obras”.
“Todos os autores esperam que suas obras sejam acessíveis para o maior número de pessoas possível. Suas obras devem estar amplamente disponíveis em telas de cinema, TV e suas variantes digitais, e em todos os serviços on-demand”, diz o manifesto, que conclui com um chamamento.
“Há muita coisa em jogo, mas o desafio é formidável: nos unirmos – atores políticos, criadores e cidadãos – para redesenhar e reconstruir uma política cultural exigente e ambiciosa, adaptada ao ambiente digital, a sua economia e as suas aplicações, que valorizem as obras e situem os criadores no epicentro da ação”, concluem.
O texto até inclui um chavão: “A Europa não é o Velho Oeste selvagem e sem lei”. A frase visa reforçar o pedido de regulamentação, igualando streaming à exibição televisa. Ou, nas palavras do texto, “a aplicação das mesmas regras a todos os radiodifusores, plataformas, sites de compartilhamento e redes sociais”.
Mas enquanto os cineastas buscam enquadrar a Netflix, não oferecem nenhuma palavra para incentivar o investimento, preferindo ignorar completamente a polêmica do festival francês, originada pela janela de lançamentos. Na França, o parque exibidor tem exclusividade de três anos sobre um filme, antes dele poder ser distribuído em outro formato, como streaming e vídeo. É um monopólio em descompasso com o resto do mundo e na contramão do interesse dos estúdios.
O manifesto pode ser lido na íntegra, em inglês, no site da FERA, Federação dos Diretores de Cinema Europeus.