O coletivo cinematográfico Alumbramento surgiu com um modelo de produção que alude muito ao cinema de invenção (ou marginal, como é popularmente chamado), apropriando-se da democratização do digital para dar luz à narrativas que não atendem a estruturas convencionais, na qual a palavra é expressa com uma prosa particular em atos não muito bem demarcados. Por isso mesmo, o alcance de seus filmes é restrito, recebendo poucas chances no circuito comercial após uma trajetória por festivais mais susceptíveis a propostas experimentais por vezes radicais.
Com atraso de três anos, “Com os Punhos Cerrados” finalmente chega em circuito limitadíssimo e seduzirá somente aos que apreciaram os feitos anteriores dos realizadores, como “Estrada para Ythaca” (2010) e “Os Monstros” (2011).
Aqui, os irmãos Pretti e Pedro Diogenes se desdobram em inúmeras funções em nome do espírito coletivo, respondendo inclusive pelo protagonismo da trama, como um trio que se ocupa com transmissões de uma rádio clandestina, ouvida desde táxis até alto-falantes expostos em postes de Fortaleza. O propósito é recitar conteúdos de caráter subversivo, bem como problematizar questões de cunho artístico e político.
Com muita boa vontade, é possível identificar na “anarquia” dessa ação um comentário sobre a condição de como um feito artístico libertário como “Com os Punhos Cerrados” se infiltra clandestinamente na sociedade. Porém, a experiência é como impor a comunicação de algo quando não há receptores muito interessados.
Isso acontece justamente pelo caráter masturbatório do texto, com direito até mesmo à nudez frontal de Samya De Lavor (que debutou aqui antes de sua participação em “Boi Neon”) ilustrando discursos mais pretensiosos do que propriamente efetivos em seus tons críticos. Nada mais do que um filme feito para satisfazer unicamente aos seus realizadores e que nada acrescenta para as possibilidades de uma cinematografia ainda em progresso.