É difícil abordar “Eu, Olga Hepnarová” sem antecipar o dado que veio a transformar uma mulher comum em agente de um ato bárbaro. Portanto, recomenda-se que nada se leia sobre a verdadeira Olga Hepnarová se a intenção for se surpreender com sua medida radical, que a tirou do anonimato para virar uma personagem obscura da história da Tchecoslováquia durante os anos 1970.
Presente na programação da última Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, a realização da dupla estreante em longas Petr Kazda e Tomás Weinreb segue a estética do oscarizado “Ida” (2013), ao ignorar a fotografia em cores e enclausurar a sua protagonista em um formato de tela que é quase um comentário sobre o seu perfil individualista.
Sem revelar demais, pode-se dizer que Olga (a excelente Michalina Olszanska, muito parecida com uma jovem Natalie Portman) se vê desprezada por todos, da família aos colegas da escola e de trabalho. O sentimento de rejeição é ampliado principalmente por assumir-se lésbica, transformando-se de uma mulher de boa família, graças ao sobrenome que herdou, em alguém marginalizada.
Em sua primeira hora, a protagonista de “Eu, Olga Hepnarová” não passa de um saco de pancadas para as pessoas que a cercam. Todos a tratam com grosserias, começando por sua mãe (interpretada por Klára Melísková) até a funcionária do caixa que diz não ter dinheiro para o pagamento do seu salário.
Mas o exagero do roteiro, também assinado por Kazda e Weinreb, em enfatizar Olga como uma injustiçada pelas circunstâncias, acaba fazendo a ação pender mais para a tragédia anunciada, estilhaçando qualquer vestígio de sutileza da interpretação. Vale pela curiosidade em conhecer o percurso de alguém que não teve qualquer escrúpulo para pregar a sua lição torta.