O papa Francisco se encontrou nesta quarta-feira (30/11) com Martin Scorsese, após a première do novo filme do diretor, “Silêncio”, sobre missionários jesuítas no Japão do século 17.
O encontro marcou uma grande guinada da Igreja em relação ao cineasta, que há 28 anos foi repudiado e tratado quase como herege por seu filme “A Última Tentação de Cristo”, de 1988.
Considerado um dos grandes diretores do cinema americano, Scorsese coleciona cenas violentas e polêmicas em sua filmografia, mas teve uma infância marcadamente católica, a ponto de ter considerado seguir o sacerdócio.
“Silêncio” marcou sua reaproximação com a Igreja. O filme teve sua première mundial numa sessão realizada na noite de terça (29/11) para 300 padres jesuítas numa universidade católica de Roma, e o cineasta permaneceu após a projeção conversando por uma hora com a platéia, que ficou impressionada e maravilhada com o longa.
“Ele estava muito envolvido e entusiasmado e realmente impressionou os jesuítas da plateia com a profundidade de sua espiritualidade”, disse o padre James Martin, um jesuíta que prestou consultoria para o roteiro do filme.
A boa receptividade entre os padres animou o papa Francisco a conceder uma audiência privada ao diretor, algo extremamente raro. Geralmente, o papa encaixa breves encontros com celebridades em meio à sua agenda de aparições públicas semanais.
O papa argentino rompeu o protocolo porque se identificou com a trama de “Silêncio”. Ele próprio foi membro da ordem jesuíta e, quando jovem, quis ir ao Japão como missionário, mas foi impedido por motivos de saúde.
De acordo com a Santa Sé, o encontro ocorreu em “clima cordial” e o Papa contou que já conhecia a história, por ter lido o livro “Silêncio”, do japonês Shusaku Endo, que inspirou o filme de Scorsese. O cineasta presenteou o Papa com dois quadros, enquanto Francisco retribuiu com rosários.
O filme terá nova sessão na cinemateca do Vaticano para 30 convidados na quinta (1/12), mas o papa não confirmou presença.
Estrelado por Liam Neeson (“Busca Implacável”), Andrew Garfield (“O Espetacular Homem-Aranha”) e Adam Driver (“Star Wars: O Despertar da Força”), o filme acompanha dois padres jesuítas portugueses, que viajam ao Japão feudal para localizar seu mentor, que rumores afirmam ter renunciado à fé sob tortura. Em sua jornada, também pretendem espalhar o evangelho do cristianismo no século 17, mas acabam conduzidos ao mesmo dilema.
O longa chegará aos cinemas americanos em 23 de dezembro, em distribuição limitada, visando atender as regras do Oscar. A produção vem sendo desenvolvida por Scorsese há décadas e a perspectiva de seu lançamento neste ano era uma das grandes dúvidas em relação à disputa do Oscar 2017. Os dois últimos filmes do cineasta, “O Lobo de Wall Street” e “Hugo”, receberam um total de 16 indicações ao Oscar.