O drama “Que Horas Ela Volta?” foi o vencedor do 15° Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento da Academia Brasileira de Cinema, que é apelidado de “Oscar brasileiro”. A premiação aconteceu na noite de terça-feira (4/10) no Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, e rendeu sete troféus ao longa escrito e dirigido por Anna Muylaert: Melhor Filme, Direção, Roteiro, Montagem, Atriz (Regina Casé), Atriz Coadjuvante (Camila Márdilla) e o Prêmio do Público.
“Demorei 19 anos para chegar a esse filme pronto. É o meu trabalho mais maduro. Dedico esse prêmio aos atores, que me ajudaram a terminar esse filme”, disse Anna Muylaert, em seu agradecimento.
Até este prêmio demorou. “Que Horas Ela Volta?” recebeu seu primeiro prêmio internacional, no Festival de Sundance, há 21 meses. Estreou nos cinemas brasileiros há 15 meses. Desde então, Muylaert lançou outro filme, “Mãe Só Há Uma”, e já filmou um terceiro, um documentário sobre o Impeachment de Dilma Rousseff.
Mas isso é chover no molhado com o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, cujo nome já soa antiquado como qualquer manifestação de ufanismo. Alheio ao calendário, enquanto o foco está na discussão de “Aquarius” e o Oscar 2017, o “Oscar brasileiro” celebra os melhores de 2015. Mas graças aos problemas inerentes do circuito, acaba também premiando trabalhos de cinco e até 20 anos atrás, como, por exemplo, a interpretação de Marco Ricca, vencedor do troféu de Melhor Ator por “Chatô, o Rei do Brasil”, exibido no ano passado, mas realizado ao longo de duas décadas.
A Melhor Animação foi “Até Que a Sbórnia Nos Separe”, de Otto Guerra, que teve première no Festival de Gramado de 2013. A Melhor Comédia, “Infância”, de Domingos de Oliveira, fez parte da programação de Gramado em 2014.
Organizada pela Academia Brasileira de Cinema, a premiação se dividiu em 25 categorias e tinha, entre seus indicados, até um filme que venceu o Festival do Rio de 2011: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, que rendeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante a Chico Anysio, falecido há quatro anos.
Assim como os demais, “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” também só foi exibido nos cinemas no ano passado. E este é o estado da indústria cinematográfica nacional, celebrada pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Um dia, quem sabe, os grandes filmes brasileiros não terão que esperar tanto tempo para serem reconhecidos, especialmente pelo circuito, que renega produções premiadas, chegando a deixar obras paradas por meia década, apenas para lançá-las em meia dúzia de salas.
O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro sugeriu que o tema da premiação fosse “manifesto”, numa tentativa de atualizar sua sessão de nostalgia com fatos deste ano. Mas, em vez de partir para o oba-oba, podia se manifestar de fato junto ao circuito. Podia, inclusive, dar o exemplo, aproximando mais o seu próprio calendário de premiações da estreia dos filmes que premia. Novamente, chovendo no molhado…