Desde a sua encarnação em 1995 em uma coluna do jornal The Independent, Bridget Jones é uma personagem amada pelos britânicos, representando um tipo de mulher moderna, mais de acordo com a realidade, dentro de suas aspirações, obsessões e imperfeições. Sabiamente, Helen Fielding soube aproveitar o potencial de Bridget não apenas com a publicação de livros, como também com a autorização para que estes ganhassem vida no cinema, estratégia que transformou a sua criação em ícone da cultura pop.
Após o desapontador “Bridget Jones: No Limite da Razão” (2004), que revisto hoje soa como uma versão infantilizada do charmoso original “O Diário de Bridget Jones” (2001), o futuro de Bridget Jones parecia incerto no cinema, especialmente por algumas escolhas radicais de Helen Fielding em seu terceiro livro da personagem, “Louca Pelo Garoto”. Nele, temos uma Bridget cinquentona redescobrindo o seu poder de sedução após a morte de Mark Darcy, algo que foi encarado como uma punhalada no coração dos leitores.
Ainda que o nome de Fielding esteja creditado no roteiro e produção executiva, toda a equipe decidiu ser mais precavida em “O Bebê de Bridget Jones”, trazendo Bridget de volta com um roteiro totalmente original. Aqui com 43 anos, ela já não tem mais que brigar com a balança ou por um emprego promissor, mas continua nas crises amorosas que a notabilizaram. O perfil workaholic de Mark Darcy (Colin Firth) a fez botar um ponto final no relacionamento e, para contornar a recusa de Hugh Grant em reprisar o seu papel, Daniel Cleaver tem a sua ausência justificada por um episódio trágico.
Uma série de circunstâncias faz Bridget Jones ter relações sexuais com dois homens em uma mesma semana. O primeiro é Jack (Patrick Dempsey), sujeito boa-pinta que mais tarde ela descobre ser um guru do amor milionário. O segundo, claro, é Mark Darcy, numa recaída, durante a festa de batizado do novo filho de sua amiga Jude (Shirley Henderson). O que era para ser casual acaba se tornando uma bomba para Bridget no instante em que ela se descobre grávida e não sabe quais dos dois é o pai.
Há seis anos sumida do cinema, Renée Zellweger tem um retorno triunfal ao papel que a transformou em estrela. Sem precisar de piscadelas para atrair o público, Renée é verdadeiramente adorável com a sua naturalidade ao dar vida à Bridget, especialmente ao encarar as características a princípio menos atrativas da personagem, como a incapacidade de se dirigir a um grande público sem se meter em algum constrangimento ou a de cair em furadas maiores do que o fundo do poço emocional em que está presa.
Diretora do original, Sharon Maguire compreendeu tudo o que fez de Bridget uma mulher muito além da mera heroína de comédia romântica ao conduzi-la ao cinema, e o seu retorno à personagem em “O Bebê de Bridget Jones” é decisivo para manter essa singularidade. Sem desconsiderar as virtudes do filme de 2001, Maguire dá novos passos ao situar Bridget em novos tempos, nos quais uma mulher se vê capaz de novas possibilidades dentro de dilemas gerados a partir de questões como casamento, maternidade, vida profissional e envelhecimento. A conclusão pode soar excessivamente conciliadora para os mais exigentes, mas nada que impeça o encanto do filme, capaz de deixar os espectadores mais leves com a ternura bem particular que injeta, a partir de suas situações adversas e cômicas.